Mulheres Imigrantes

#81 - Cultura com Rebecca Aletheia

April 27, 2024 Mulheres Imigrantes Season 4 Episode 81
#81 - Cultura com Rebecca Aletheia
Mulheres Imigrantes
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#81 - Cultura com Rebecca Aletheia
Apr 27, 2024 Season 4 Episode 81
Mulheres Imigrantes

Manda uma mensagem pra gente!

No episódio de hoje, a entrevistada é Rebecca Aletheia, @rebeccaletheia, natural de Santo André/SP, atualmente morando em São Paulo, capital, depois de 7 anos fora. 

Rebecca contou como fazer parte de uma família com quatro irmãos, que tinha como hobby conhecer mensalmente novos lugares, foi motivo catalisador para o seu interesse em desbravar o mundo. 

Com um olhar múltiplo e de quem tem a imigração como  parte de uma grande jornada, a empreendedora contou como o lazer é um direito do ser humano e da importância do entretenimento e da cultura para a saúde mental de um indivíduo.

A escritora falou sobre suas experiências morando em mais de cinco países, e como viajar a impulsionou a criar a @bitongatravel, um coletivo para mulheres negras viajantes. 

Aletheia falou ainda sobre como visitar o continente africano foi transformador para sua vivência de mulher negra, que cresceu em um país com mais de 54% de pessoas pretas, e ainda assim não ser vista ocupando lugares de referência. 

Uma conversa sobre África e sobre o Brasil visto pelos olhos de uma mulher negra que se tornou referência no mundo nômade.

Esse episódio foi patrocinado por Tagarela Migration, uma agência de confiança em processos de imigração para a Austrália, sigam no instagram @tagarela_aus

---

Lupa Cultural:

Podcast da Bitonga Travel, podcast - @bitongatravel

EscreVIVER - Cartas de uma viajante negra ao redor do mundo, livro de Rebecca Aletheia - @rebeccaletheia

Quarto de despejo, livro de Carolina de Jesus

Descolonizando afetos: Experimentações sobre outras formas de amar, livro de Geni Núñez - @genipapos

Iwájú, animação na Disney+ - @disneyaunz

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Este podcast é uma produção independente, realizado e idealizado por Barbara dos Santos

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No episódio de hoje, a entrevistada é Rebecca Aletheia, @rebeccaletheia, natural de Santo André/SP, atualmente morando em São Paulo, capital, depois de 7 anos fora. 

Rebecca contou como fazer parte de uma família com quatro irmãos, que tinha como hobby conhecer mensalmente novos lugares, foi motivo catalisador para o seu interesse em desbravar o mundo. 

Com um olhar múltiplo e de quem tem a imigração como  parte de uma grande jornada, a empreendedora contou como o lazer é um direito do ser humano e da importância do entretenimento e da cultura para a saúde mental de um indivíduo.

A escritora falou sobre suas experiências morando em mais de cinco países, e como viajar a impulsionou a criar a @bitongatravel, um coletivo para mulheres negras viajantes. 

Aletheia falou ainda sobre como visitar o continente africano foi transformador para sua vivência de mulher negra, que cresceu em um país com mais de 54% de pessoas pretas, e ainda assim não ser vista ocupando lugares de referência. 

Uma conversa sobre África e sobre o Brasil visto pelos olhos de uma mulher negra que se tornou referência no mundo nômade.

Esse episódio foi patrocinado por Tagarela Migration, uma agência de confiança em processos de imigração para a Austrália, sigam no instagram @tagarela_aus

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Lupa Cultural:

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mulheresimigrantes
Olá, mulheres imigrantes! Eu sou Barbara dos Santos, paulistana da Zona Leste e imigrante em Gold Coast, Austrália, 17 anos. Convidada desse episódio natural de Santo André, São Paulo, apaixonada por reconhecer culturas, escrever e deserto,

153.695
mulheresimigrantes
empreendedora e escritora por profissão e cidadã do mundo nas horas vagas, Rebecca Aletheia. Seja muito bem-vinda e, por favor, se apresente melhor às nossas ouvintes. Quem é a Rebecca na fila do nomadismo?

169.907
Rebecca Aletheia
Muito bem, muito obrigada, Barbara, e muito obrigada a todos os ouvintes aqui das Mulheres Imigrantes, para mim é uma honra poder também esse podcast e poder compartilhar minha história. Espero que possamos fazer uma viagem, uma imigração aqui pelas ondas audíveis desse podcast e que a gente possa se conhecer melhor. Eu me chamo Rebecca Leteia,

195.145
Rebecca Aletheia
Eu sou, hoje, viajante, um pouco nômade, mas acredito que mais viajante do que nômade. Tive a oportunidade de morar. Nem lembro mais, eu comentei com a Barbara, acho que talvez ela sabe melhor que eu.

211.152
mulheresimigrantes
Eu tenho a lista e a gente chega nela.

215.418
Rebecca Aletheia
Isso, eu sou escritora, sou empreendedora e também faço parte, sou uma da idealizadora de um coletivo de mulheres negras viajantes, trazendo essa visibilidade de mulheres que migram, mulheres que viajam.

231.459
Rebecca Aletheia
trazendo outras perspectivas e narrativas de mulheres e gente como a gente, né? Como a Barbara falou, ela é da Zona Leste de São Paulo, eu sou do ABC Paulista, então são regiões mais periféricas do que os grandes centros, obviamente a gente ainda está em São Paulo, mas também tem muitas outras mulheres que é do Nordeste, que é do Norte do Brasil, da Amazônia,

254.121
Rebecca Aletheia
de outras regiões da América do Sul e também do Caribe e de África que a gente possa inspirar. Então, é isso. Minimamente, quase nada diminui isso.

267.415
mulheresimigrantes
E, gente, pra quem escuta o podcast já há muito tempo sabe que eu sou amante de rotina e estrutura. E eu sempre faço as mesmas perguntas, base.

282.841
mulheresimigrantes
E da mesma maneira, às todas convidadas. Mesmo que cada uma tenha sua história única, porém, algo me fez querer mudar as coisas com você, Rebecca. De alguma maneira, não tem como fazer igual com alguém que é tão múltipla e diversa e que se joga para o desconhecido com a curiosidade e interesse de uma criança ao descobrir o mundo fora de sua casa.

311.971
mulheresimigrantes
Então, bora jogar o meu conforto da pauta de lado e a gente vai seguir isso com a intuição. Então, onde foi que surgiu esse seu interesse em viajar e conhecer o mundo e querer ocupar esse mundo como um ser viajante?

330.213
Rebecca Aletheia
Sim, você sabe que eu estou em São Paulo depois de sete anos, sem parar, então cheguei agora, retornei um pouco a São Paulo e eu fui na rua 7 de abril, para quem é de São Paulo, recentemente, acho que alguns dias atrás,

349.633
Rebecca Aletheia
E eu comecei a pensar que o meu amor por andar, por estar nos lugares, veio muito do meu pai e dos meus pais. O quanto eles entendiam a importância do lazer. Uma vez por mês eu tenho quatro irmãos, então meus pais têm cinco filhos.

371.871
Rebecca Aletheia
E uma vez por mês eles tiravam um dia para a gente passear. Então a gente ia para o centro da cidade, a gente ia para o Pico do Jaraguá, essa coisa de descobrir, essa coisa de tipo, do novo. E aquilo para o meu pai era fascinante, para ele era lindo, o jeito que ele fala da cidade, o jeito que ele ama. E aí meu pai morou no Rio e ele falava. E tem uma das cenas que eu lembro muito, meu pai levava a gente na Europa,

397.978
Rebecca Aletheia
para ver os aviões voando. Eu tenho um irmão que é apaixonado por avião. E na nossa infância, a gente nunca andou de avião. Eu nunca andei de avião quando eu era criança. Nunca andei de avião com os meus pais. Mas eles sempre levavam a gente. Então, acho que isso era uma forma indireta de colocar a viagem para a gente, sabe?

400.862
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É isso aí.

419.002
Rebecca Aletheia
Isso foi parte da nossa educação, de conseguir conhecer o mundo. Às vezes a gente ia passear e levava a nosso lanche, sabe? A comida, mas a gente estava nos lugares, a gente estava ocupando. E os meus pais, eles se conheceram viajando. Então eu acho que eu fui o... É DNA, assim, veio com esse fruto.

443.217
mulheresimigrantes
Gente, que coisa linda de ter essa preocupação com as crianças de querer explorar e a gente vindo aí, cria dos anos 80, né? Estão ali crescendo anos 90. Não sei, não tinha tanto nessa coisa de, ah, o máximo a gente ia para um parque perto de casa,

467.858
mulheresimigrantes
desse desbravar de lugares novos, de reconhecer a nossa própria cidade e passear e, de certa forma, introduzir essa coisa da possibilidade das viagens do aeroporto, mesmo vocês não tendo desfrutado disso juntos. Mas a nossa, olha, isso acontece, né? Pessoas fazem isso.

496.164
Rebecca Aletheia
Sim, eu costumo dizer que é o direito ao lazer.

500.35
Rebecca Aletheia
a gente tem e deve ter o direito ao lazer. E não é só trabalhar, né? E considero também que eu venho de uma família majoritariamente de pessoas negras, e eu sempre digo que as nossas tias, as nossas avós, elas sempre tiravam uma vez no ano as férias das crianças, mesmo que os nossos pais estavam viajando,

527.005
Rebecca Aletheia
eles deixavam com alguém que alguém ia viajar, alguém ia para a praia e aí aquelas 50 crianças e tinha uma, duas tias cuidando, né? Pensar no lazer, pensar na nossa saúde mental, assim, porque isso é um direito, né? Assim como a gente fala de direito à saúde, direito à transporte, direito à cidadania, a gente precisa também do direito ao lazer, né? Isso é fundamental.

557.176
mulheresimigrantes
Porque a gente não... É complicado isso, né? Falta palavras do tanto que a gente cresceu numa sociedade de que você não é direito, é mérito. Você só descansa, você só...

579.104
mulheresimigrantes
Relaxa. Isso só faz parte da nossa rotina se a gente cumpriu com as obrigações. E se a gente tem dinheiro ou se a gente tem aquilo, não, de certa forma, tentar incorporar isso.

600.93
mulheresimigrantes
um passeio, tipo, tem muitas cidades no mundo, né, e a gente vai entendendo um pouco mais disso, mas tem inúmeras cidades no mundo que têm aqueles passeios no centro da cidade que são passeios guiados caminhando gratuitos.

620.145
mulheresimigrantes
Então, muitas vezes a gente não precisa de tanto acesso financeiro para desbravar e conhecer outros lugares. Tem parques nacionais e estaduais e afins. Museu. Eu vi que você estava ontem no museu... Gente, ontem de quando a gente está gravando, tá? E que às quartas-feiras o museu... Me fala o nome completo, por favor. Isso.

629.01
Rebecca Aletheia
Uhum. Museu Afro. Museu Afro brasileiro.

647.79
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que as quartas-feiras é entrada gratuita. Então, às vezes, é só o valor do transporte, de você se locomover até

658.856
Rebecca Aletheia
Exatamente. Exatamente. Todos os museus, falando assim, a Europa hoje, uma vez por mês ele tem que ser gratuito. Então, tem o dia grátis de um museu na Europa. No Brasil, em muitas cidades, é uma vez por semana que é gratuito.

678.677
mulheresimigrantes
Olha que diferença!

682.638
Rebecca Aletheia
é trazendo assim o acesso à cultura. Obviamente, quando a gente vai para a Europa, os museus são mega ultra lotados. Mas tem aqueles cartões que fazem tipo entrada gratuita para o museu, que aí você paga às vezes 60 euros, aí você pode ir em todos os museus uma vez no ano. E aqui no Brasil, a maioria é uma vez por mês. Então esse é quarta, tem museu que é sexta, tem museu que é quinta, então vai variando muito.

709.667
mulheresimigrantes
Nossa, a gente tem um para cada dia da semana. E entrando um pouco aí já na sua história de imigração, gente, eu vou listar todos os países que a Rebecca morou, e aí a gente vai começar um pouquinho aí então. Porque você, na escolha dos lugares, tirando um, a maioria foi...

712.108
Rebecca Aletheia
É isso aí.

738.718
mulheresimigrantes
Inusitado, não é a palavra. Vamos dizer assim, não convencionais. E aí, gente, eu vou listar para vocês. Tajikistan, Moçambique, Serra Leoa, Venezuela e Holanda. E ainda ouço dizer que a Holanda

743.797
Rebecca Aletheia
Uhum.

758.2
mulheresimigrantes
Tudo bem, entra na lista de ser um país europeu e tal, mas ainda tem um pezinho no não convencional de não ser uma primeira escolha de muitas pessoas. Não é um país de língua inglesa ou de uma língua tão...

776.647
mulheresimigrantes
popular, né, ou fácil de se falar. Então, ele ainda tem um pezinho aí na não convencionalidade. Como é que foi? De onde surgiu? Como você descobriu alguns desses países? E falou, não, tá aí, quero morar.

797.241
Rebecca Aletheia
É ótima pergunta. Eu sou formada, sou enfermeira de formação. E uma parte, eu sou infectologista em especialidade e mestre em ciências da saúde. Então, né, tive que me formar, ter uma profissão, depois de ir me descobrindo mais.

817.602
Rebecca Aletheia
Eu gosto dessa minha profissão, acho que ele me dá muitas possibilidades, mas também é uma profissão que é muito pesada. Então, eu tive a oportunidade de trabalhar numa organização internacional, e aí eles tinham algumas vagas para enfermeira infectologista, da qual eu trabalho, e tinha uma vaga para trabalhar no Tagixitão.

842.824
Rebecca Aletheia
E aí eu falei, ah, não sei onde que é, acho que a maioria das pessoas não sabe, então é ao redor de todos os países contão, é Cazaquistão, Uzbequistão, Quequistão, Turcomenistão, Mongólia e também ali tá perto da Índia, Afeganistão também. Então eu tava ali naquele reduto, acho que a primeira coisa que vem na mente é um país de guerra, porque tudo que vem contão, né, a gente já imagina, mas não, não tinha guerra, eu amei, eu fui pra ficar um ano,

872.432
Rebecca Aletheia
E eu fiquei um ano e seis meses. Então, eu me conectei muito, pra mim foi muito bom, muito gostoso. E não satisfeita, eu voltei o ano passado pro Tajikistan, e muita gente lembrava de mim, as pessoas lembram-se. Então, pra mim foi muito importante, foi o primeiro país que eu vivi longamente.

894.923
Rebecca Aletheia
Um ano e meio, eu falei, caraca! Então, foi através da minha profissão. Depois eu fui para Moçambique, e Moçambique era um sonho, um sonho mesmo, porque em 2015 eu sonhei que eu iria morar e trabalhar em Moçambique para uma organização X.

914.352
Rebecca Aletheia
E eu fui, em 2016, para ver se era realmente o lugar que eu iria morar. E aí, quando eu fui, eu me apaixonei. Eu falei, gente, é esse lugar mesmo. É igualzinho que eu sonhei. É aqui que eu quero. Obviamente que eu fui visitar a capital, mas eu não morei na capital. Que bom, porque eu não gosto de morar nos tradicionais. Então, eu fui mais para a região central do país.

934.565
mulheresimigrantes
Tchau!

937.073
Rebecca Aletheia
E lá eu fiquei um ano, sobrevivi a um ciclone. Essa é a história do Tajikistan de Moçambique que eu conto no meu livro. E quando aconteceu o ciclone, pra mim foi desesperador, mas ao mesmo tempo eu falava, eu vou continuar aqui, sabe? É aqui que eu quero, é esse lugar que me escolheu pra viver.

959.821
Rebecca Aletheia
E eu continuei, as amigas da minha mãe ligavam pra ela, sua filha tá maluca, manda ela voltar, e eu falei não, eu... Era isso, e minha mãe parou de atender telefone, minha mãe não queria falar com ninguém, porque ela falou, ela quer deixar ela, é a decisão dela, não sou eu. E aí eu fiquei assim, ainda após ciclone, oito meses no país, na cidade onde realmente aconteceu.

966.459
mulheresimigrantes
Busca sua fé de volta, como você deixa.

987.056
Rebecca Aletheia
Aí depois foi Venezuela, Venezuela eu já tinha ido em 2013, tinha cruzado o país e eu me apaixonei e eu falava, eu preciso voltar nesse país, eu quero morar nele.

999.548
Rebecca Aletheia
Ele é realmente muito lindo, assim, uma beleza, a natureza, as pessoas, a comida. Não tem pra ninguém. E aí eu volto um pouco depois assim da pandemia, acho que foi em 2020 que eu voltei pra Venezuela pra morar. Então pra mim foi uma experiência incrível, porque aí eu passo em outros estados, outras províncias da qual eu amei. E Holanda, né, que acho que foi o último. Não, Serra Leoa.

1027.449
mulheresimigrantes
É um Serra Leo aí.

1030.162
Rebecca Aletheia
Serra Leoa, que também foi o oeste africano, então eu já tinha feito a África Sul-Sariana, e foi a primeira vez que vou para esse lado, da qual eu aprendo muito e eu fico apaixonada. Então, o ano passado eu digo que foi o ano dos retornos, porque eu voltei para a África para muito.

1049.821
Rebecca Aletheia
Venezuela, voltei para a Serra Leoa, e esse ano voltei para Moçambique e Itajiquistão. Então, eu estou retornando a todos os países que realmente fizeram parte da minha história. E agora, Holanda, que foi um ano que eu vivi na Holanda, vivendo um pouco dessa Europa, com a maioria das imigrantes que estão ouvindo esse podcast.

1074.753
mulheresimigrantes
E aí, quais foram, assim, top 3 similaridades morando em cada um desses países e, tipo, top 3 diferenças? Porque isso é uma coisa que a gente percebe muito, que por mais que a gente tenha imigrantes que moraram em inúmeros países do mundo, várias têm... Tem gente passando aí atrás, pode passar, dá oi!

1087.807
Rebecca Aletheia
Eu acho que... Pode passar. Ela é colombiana, está aqui em casa me visitando.

1107.466
mulheresimigrantes
Mas tem alguns lugares que tem coisas similares. Tudo bem. A gente funciona assim mesmo. Vamos lá. As similaridades e diferenças desses países que você morou.

1136.808
Rebecca Aletheia
Olha, eu, pontuando todos os países que eu morei, tirando a Holanda, eu acho que a similaridade que eles têm

1146.271
Rebecca Aletheia
são nas cores, sabe? As cores das roupas que as pessoas usam. Eu sou uma pessoa muito colorida, né? Quem me conhece sabe, tipo, sim, estou com uma roupa colorida, assim. E todos os países, assim, Venezuela, Sierra Leone, Tajikistan, eu tinha muito medo de chegar lá, porque não tem na internet. Se a gente for buscar, isso foi em 2017, não tinha muita coisa falando do país.

1149.991
mulheresimigrantes
Não, não, não.

1174.548
Rebecca Aletheia
E quando eu cheguei eu fui, aí, você negra, né, lá, uso roupa colorida, meu cabelo. Então, o quanto isso ia chamar a atenção das pessoas. Eu não queria chamar a atenção.

1186.067
Rebecca Aletheia
Porque eu queria estar ali, vivendo, né? A gente quer viver, é isso que a gente quer, é o meu maior desejo. E quando as pessoas me viam, quando eu vi as pessoas, elas tinham roupa, as roupas bordadas à mão, as roupas coloridas, os tecidos, iam lá e costuravam, faziam a roupa em um dia, então aquilo pra mim era incrível. Moçambique é assim, Serralheu era assim, Venezuela é assim, sabe? As roupas, o glamouro colorido, então isso pra mim,

1217.167
Rebecca Aletheia
Foi muito impactante, eu falava, gente, é isso mesmo, é isso que eu gosto. Então foi muito acolhedor, as pessoas, Tajikistan é considerado um dos países mais acolhedores do mundo. Isso na época que eu fui, então não sei agora os dados,

1233.08
Rebecca Aletheia
As pessoas não falavam inglês, mas elas convidavam para entrar na casa, para comer comida. E isso também acontece muito nos países africanos e também na Venezuela, né? Então acho que é essa a similaridade, sabe? Esse calor, esse acolhimento que eu acho que não tem para ninguém.

1252.227
mulheresimigrantes
e as diferenças.

1254.241
Rebecca Aletheia
As diferenças. Óbvio, eu acho que elas vão mudando muito a diferença das comidas. Acho que elas são um pouco diferentes quando a gente pensa a comida. Então, desde o mais picante, a base da comida.

1274.77
Rebecca Aletheia
Para alguns países são os legumes, as verduras, para outro país é a carne, o quanto a importância da carne. E até mesmo a Holanda, que para mim eles não têm comida. Então isso para mim era um grande choque cultural. Desculpa Holanda.

1296.353
mulheresimigrantes
Ai, é tipo australia. Eles têm, tipo, lista de pratos típicos. Aqui é uma pai, que é tipo... Gente, tradução, e não só tradução, mas até aparência, é tipo uma empada. Já que é uma empada...

1314.889
Rebecca Aletheia
Uhum.

1317.022
mulheresimigrantes
de carne moída, não seca, mas meio melequentinha ali dentro, que eles comem com ketchup em cima. Esse é um dos pratos típicos. Outro é fish and chips, então um peixe frito com batata frita. Bless you.

1338.914
mulheresimigrantes
Que mais? Pão com margarina e vegemite. É isso. O Holanda tem o que? O pãozinho lá com aquele peixe que eu esqueci o nome. E... Strip waffle. O waffle é gostoso. Vamos... O strip waffle lá, que fininho, com aquele caramelozinho por dentro. Legal, mas... Acabou. Exato!

1351.988
Rebecca Aletheia
O croquete. E que não é comida, entende? Tipo, arroz e feijão, sabe? Por favor, me dá uma comida. Tipo, vamos na minha casa me dar uns chips, entende? Tipo, gente... É... É... Que nem eles compram esse wafel lá, tipo, meu, vamos lá, vamos pensar, vamos dizer sobre comida, né?

1368.831
mulheresimigrantes
uma moqueca, um negócio ali.

1382.415
Rebecca Aletheia
Mas acho que é isso, assim, por exemplo, o Tajikistão, como ele tem muita influência russa e da antiga União Soviética, tudo é muito regado com óleo. Então, assim, é muito pesado, sabe? Mas aí quando você vai para Moçambique, o Moçambique ele tem a ideia das verduras dos legumes e mesmo com a carne, que tem a carne, ela tem um tempero muito peculiar, que é muito bom, sabe?

1409.718
Rebecca Aletheia
E aí você vai pra Serra Leu, ele também traz um pouco do arroz, assim, né? Então acho que são diferentes, mas às vezes eles são um pouco similares, mas que a Ikea, a Venezuela, eu falo que é meu destino comer, assim, sabe? Porque é uma comida incrível que me lembra infância, aquela fartura também, sabe? África. Esses pais, eles trazem muito, assim, a fartura, mas são refeições, comidas originais, sabe?

1441.067
Rebecca Aletheia
trai sua individualidade.

1444.316
mulheresimigrantes
E afinal, porque nesses países, gente, com esse termo que eu detesto, mas vocês entendem porque nos famosos países de terceiro mundo, entre grandes aspas, a fartura da comida para a gente significa ascensão social, é de que eu posso

1463.131
mulheresimigrantes
que é um direito básico, eu ter o que comer e eu ter variedade. E eu poder convidar, eu poder partilhar isso com outras pessoas é o único. Não é algo que a gente consegue... A gente tá faltando... O português hoje tá difícil, viu? Take for granted.

1478.985
Rebecca Aletheia
Exatamente.

1490.862
mulheresimigrantes
que em outros países a gente não... Já está como garantido, então não é algo que a gente celebra quando tem. Porque aquela coisa do almoço de domingo na casa da vó, que tem aquela mesa cheia de coisa, não é algo tão comum nesses países que foram países colonizadores, que eles roubaram comida e coisa de todo mundo, então pra eles estava lá, já estava garantido.

1520.708
Rebecca Aletheia
A gente costuma dizer assim, os meus melhores amigos da Holanda eram mulheres negras brasileiras, mas muita gente de Moçambique, Guiné-Bissau,

1535.384
Rebecca Aletheia
E a gente sempre comentava muito de que as pessoas comem para sobreviver na Europa. E para a gente é um momento de muito prazer. A Europa, entre aspas, porque acho que tem países que ainda têm muito o esforço forte do comer.

1552.773
Rebecca Aletheia
Portugal, Espanha, Itália. Tem isso, mas os outros, às vezes, pra gente é um prazer a gente celebrar, a gente compartilhar, a gente ter pessoas juntas. E uma fala que eu acho que é muito importante, assim, que nem sempre está associado, que a pessoa tem dinheiro.

1574.565
Rebecca Aletheia
Eu lembro muito de uma cena aqui, andando na rua, no Tagistão, e uma senhora que trabalha comigo, ela trabalhava na área de limpeza mesmo, e ela me convida para ir na casa dela. Ela não falava uma palavra em inglês.

1591.561
Rebecca Aletheia
E eu também não falava tagique, na época nem russo, nada. E aí ela fala, entra aqui na minha casa, e ela começa a preparar um prato de comida. E ela vai comprar carne, sabe assim? Eu falo assim, gente, a casa da mulher não tinha nada. Eu falo assim, não, não precisa comprar carne, não precisa nisso. Eu estava logo iniciando assim, hoje eu entendo, se alguém virar pra mim, mesmo que ela não tiver nada, nada.

1618.643
Rebecca Aletheia
Mas ela me deu uma carne, eu vou aceitar, sabe? Porque pra isso, pra ela mostrar, eu tenho. Não é que ela tem que ela não tem, não sou eu que tenho que julgar, mas ela falou, eu quero, eu quero te ofertar, eu quero te dar isso. E aí eu comi, e eu comentei ontem com umas amigas minhas que eu tava em uma casa dos meus vizinhos em Serra Leoa e passou um carangue, um caramujo.

1643.456
Rebecca Aletheia
E aí fala assim, não comam caramujo africano, né? Acho que era caramujo, não lembro, né? E aí eu falei, meu Deus! E aí eles, ei! E todo mundo para assim, tipo eles falam, vamos matar e vamos comer, né? E aí eu fiquei olhando assim... E aí eu falei assim, meu Deus! Aí eles, você quer? Aí eu fiz assim, não! E todo mundo virou e me olhou assim, não!

1656.886
mulheresimigrantes
Ah, aí.

1667.722
Rebecca Aletheia
Aí eu, sim, e na hora eu falo assim, me proteja, me proteja, Deus me guie, e que nada aconteça. Aí eu fui na boca e falei, nossa, que delícia, sabe? O quanto respeito com a comida, o quanto respeito com a cultura, que muitas vezes não é do nosso paladar, mas o quanto a gente precisa cuidar mesmo, de respeito da comida. E aí depois alguma amiga falou, você sabe que isso é escargot?

1696.101
Rebecca Aletheia
Eu falei, é verdade, né? É da gente poder respeitar espaços, territórios e culturas. Eu não quero saber o que eu comi, eu comi.

1704.514
mulheresimigrantes
Porque quando vem com um nome francês atrelado ali, feito... Se vem de um criadouro de uma fazenda de caramujo ali, tá tudo bem. Mas se é um caramujo selvagem...

1723.319
Rebecca Aletheia
Eu vivi. Uhum. Sim. Uhum.

1728.729
mulheresimigrantes
Olha, esses protetores guardiões aí trabalham hora extra, né? E aí não contente, Rebecca, em ser uma mulher negra viajante, que já é uma baita aventura, você resolveu se aventurar no mundo do empreendedorismo. Qual que é mais difícil?

1755.213
Rebecca Aletheia
Eu acredito que empreender é muito difícil. É desigual. Eu acho que é um mundo desigual quando a gente entende força do capital e quando a gente entende mundo. Hoje eu tenho uma visão jamais de mundo. Eu nunca me considerei empreendedora.

1781.527
Rebecca Aletheia
Mas eu entendo hoje minha avó como empreendedora e um dia, foi muito bonito, foi em Moçambique, que eu conheci numa parada gay, numa cidade na beira.

1796.681
Rebecca Aletheia
Uma mulher, a gente estava lá na Parada Gay, e ela vira pra mim e ela fala assim, ah, tudo bem, alguém pergunta o que ela fazia, o que ela trabalha. Hoje eu não pergunto muito o que as pessoas trabalham, porque não é isso que define as pessoas, sabe? E a gente sabe que tem muita imigrante mesmo em outros países que faz o corre, que não tem documento,

1819.718
Rebecca Aletheia
Mas ela empreende, ela está ali, então não é isso que faz ela ser a pessoa. Não é a minha profissão que me define. E por isso que eu não falo que eu sou enfermeira, porque isso é o 10% da minha vida. E aí conversando, alguém pergunta o que a menina faz. E ela fala, eu sou empreendedora. E aí todo mundo vira para ela, porque ela fala com um prazer, uma coisa tão bonita.

1846.461
Rebecca Aletheia
E era uma mulher assim que você não daria nada pra ela. E quando ela fala aquilo, todo mundo olha pra ela assim de um jeito diferente que já era pra ela ter sido notada. E aí fala assim, mas empreende aonde? Porque não bastava ela dizer onde ela empreendia e as pessoas vão cutucar ela. Ela falou assim, eu tenho uma barraca de alface na rua. Entendeu?

1869.121
Rebecca Aletheia
E eu falei assim, ela está certa, ela empreende, porque às vezes a gente fica pensando em empreendedorismo, como as grandes empresas, como não sei o quê, aquelas pessoas bem sucedidas, aquelas pessoas trilionárias. O empreendedorismo vem com a vida, e eu fui vendo essa coisa de empreender depois. A minha avó,

1896.8
Rebecca Aletheia
Ela vendia pano de prato, alugava casas e vendia também botijão de gás. Ela era empreendedora, eu não entendia. E pra minha avó, de acordo com o sistema, minha avó era a dona do lar, sabe assim? Minha avó era empreendedora, então ela fazia o business e ela...

1915.682
mulheresimigrantes
Gente... Que loucura isso, né?

1916.647
Rebecca Aletheia
Ela não tinha emprego, é desempregada, na alfabeto e tipo do lar, mas a gente falou assim, cara, minha avó, mas isso vem com uma construção social, né? Vem quando você já entende um pouco do que você tá, onde você tá. Eu não imaginava que eu era empreendedora.

1932.695
Rebecca Aletheia
Mas as pessoas também vão falando, elas vão te dando esse nome. Então hoje eu realizo viagens com mulheres negras. Eu realizo alguns eventos dessa coisa do empreendedorismo. Eu tenho meu livro, eu tenho e-book, então a gente vai empreendendo. Eu tenho uma loja, porque é muito engraçado, porque a gente é múltiplo. Eu tenho muita roupa colorida, eu ganho muita roupa de vários países, roupa do Tajikistan, tanto que...

1961.741
Rebecca Aletheia
Empresas como Sky, é a Google, quando tem eventos que precisam filmar, eles me contactam para alugar roupa.

1971.391
mulheresimigrantes
Olha! Sim, sim!

1973.114
Rebecca Aletheia
Porque as pessoas são muito, tipo, não são normais. Elas são, sabe, então eles alugam. Então muita pessoa jurídica liga, olha, eu preciso de roupa, esses dias, semana passada, alguém liga, olha, acho que você não tá no Brasil, mas eu preciso de roupa de rei e rainha. Eu acho que é um pouco essas roupas que você usa. Aí eu falei assim, gente, roupa de rei e rainha.

1994.548
Rebecca Aletheia
E aí eu tava no Brasil, né? Falei, não tô no Brasil, vamos lá, eu vou mostrar o guarda-roupa, né? E aí eu mostro o guarda-roupa e eu assim, gente, e mesmo na verdade que é roupa de rei e rainha, e aí eles mandam foto assim, né? Que é com muito ouro, com muito dourado.

2009.599
Rebecca Aletheia
E é isso, eu também alugo roupa, eu faço brechó nas minhas roupas, eu sou a pessoa mais desapegada desse mundo, então tipo, eu usei. Daqui a pouco alguém fala, eu quero, olha, até tem uma história, né, que eu mostro, tipo, ai você chegou e eu vi você usando tal roupa. Eu falo, o que é? Leva. Você não tem medo de desapegar?

2029.019
Rebecca Aletheia
porque eu vou ver minhas roupas, eu vou ver minhas coisas. Sendo usada mais que eu, que eu tô ali em trânsito, tô ganhando, tô comprando e acho que tem que circular. Então é isso, assim, ver de todos os momentos possibilidades, eu acho que nem oportunidade, acho que é possibilidade e nem tudo é sobre ganhar, sabe? E muito, assim, eu fico feliz e acho que o mundo vai ser melhor.

2055.555
Rebecca Aletheia
Não é sobre só ganhar, é só a gente poder trocar, a gente poder pensar possibilidades. Pois é, isso ainda está muito maturando, assim. Eu não acho... É isso, assim, eu não acho que eu sou dona de uma empresa. Porém, eu sou.

2062.5
mulheresimigrantes
Um pouco mais para a gente, então, como que surgiu a sua empresa de viagens, o seu empreendedorismo e como que é ser dona dos seus próprios negócios? Tem de viagem, tem de ropa, tem de ropa, tem de duzentos. Ela é doida.

2085.367
Rebecca Aletheia
É, de nada. Não é. Eu faço a gestão dos empregos. Ah, louca, eu faço gestão. Eu, como enfermeira, eu trabalho com mais gestão. Eu não vejo paciente há anos. Então, se você passar mal, eu não sei cuidar. Então, eu sempre fui voltada muito para gestão, de gerir projetos ao redor do mundo. Enfim, eram dez projetos que eu geria.

2115.265
Rebecca Aletheia
5 projetos e fazendo toda a gestão. E isso acontece também com esses empreendimentos que eu estou, assim, né? Tem um time por trás de tudo isso. E o time é muito bom, assim, sabe? Pessoas realmente muito potentes e que podem ser meu braço, assim. Então, a minha função ali é gerir, é conseguir fazer com que o

2141.288
Rebecca Aletheia
que as pessoas que estão comigo, elas possam trabalhar com prazer e acho que é isso que a gente vê, a gente deseja nos nossos empregos, que a gente possa ter autonomia, que a gente possa conseguir

2155.418
Rebecca Aletheia
ser autônoma para a tomada de decisões, então eu faço um pouco dessa gestão, a distância, por isso que eu volto um pouco agora para o Brasil e também desse lance de mulheres negras viajantes. A gente sabe, mais uma vez que eu falei, que foi da minha infância,

2173.183
Rebecca Aletheia
do direito ao lazer, ele vem mostrando muito hoje que também é uma pauta que precisa ser trabalhada. Essa importância do direito ao lazer, essa importância do pertencimento. Então, muitas mulheres negras hoje, elas vivem para trabalhar. Eu vejo muitas mulheres que hoje têm ganhado dinheiro,

2196.135
Rebecca Aletheia
mas o quanto vivem trabalhando 20 horas por dia, 18 horas por dia, e que não conseguem pensar ou planejar um lazer. Porque é um sistema que nos corrompe, é um sistema que nos imobiliza. E aí até ontem, em Valmuseu, Afro, mostrando isso, eu vi que muita gente não conhece, gente daqui, sabe? Por que a gente não conhece? Porque não é dado direito à cultura.

2224.701
Rebecca Aletheia
Então, a ideia é a gente poder resgatar isso. Eu faço muitas mentorias de viagem pra gente, pra gente que eu digo quem está ouvindo esse podcast, que é imigrante. Viajar pode hoje ser uma rotina, mas tem muita gente que não sabe como ir, o que eu faço, como que eu faço, sabe?

2248.985
Rebecca Aletheia
é totalmente diferente quando você vai para uma imigração e tem uma cor da pele ali, né? Porque muitas coisas vão ser questionadas. Tem muita mulher também trans, mulher preta, que quer ir para fora do Brasil, né? Como que a gente lida com isso? Como a gente abraça essas pessoas, né? Porque nunca viajou para o Brasil. Tem uma amiga minha na Holanda, que é a Najar, que ela fala assim, ela trabalha com assessorias de viagem e ela comenta

2278.66
Rebecca Aletheia
Rebecca, tem gente aqui que nunca comeu um filé mignon. Tem gente aqui que não sabe o que é uma carne, né? Tipo, esses dias alguém me falou, o que que é feta? E aí você fala, caraca, né? É muita gente. Então, acho que poder possibilitar isso, né? Pra mim é sensacional. E mais uma vez, é mais do que o dinheiro, sabe? Dessa coisa da empresa.

2304.224
Rebecca Aletheia
A empresa coloca isso como inacessível para muita gente, mas não vai muito mais do que o dinheiro. São construções e poder dar essa possibilidade. E uma das coisas da viagem, do turismo, que algumas agências de turismo não englobam, é pensar da possibilidade de retorno ao continente africano.

2327.449
Rebecca Aletheia
pensar a possibilidade de lugares que a gente possa ser visto e reconhecido, assim como nós. Acho que quando a gente chega num espaço que a gente vê o semelhante, é tão gostoso.

2342.824
Rebecca Aletheia
A primeira vez que fui para o continente africano foi em 2011. Então eu vou todo ano, isso para mim já tem sido o rotineiro. Mas agora vou voltar para o Brasil e eu falo assim, gente, as pessoas são muito mais parecidas comigo, sabe? As pessoas falam a mesma língua que eu, mesmo que eu tenho muitos países lusófonos, mas que a língua não é igual a minha.

2369.514
Rebecca Aletheia
E aí eu falo, gente, eu fico olhando assim, sabe? Eu falo, é ter essa coisa de, tipo, ver semelhantes. Obviamente eu acho que todo mundo tem que sair daqui pra ver os semelhantes, pra ver as diferenças. E tem um vídeo que eu coloquei no YouTube recente, que são umas criancinhas, né? Que elas tocam o cabelo.

2387.637
mulheresimigrantes
Uma coisa mais linda. O brilho no olhar do reconhecimento, mas também do descobrimento. Tipo, você parece comigo, mas você também é diferente. Olha que coisa incrível, olha isso.

2407.653
Rebecca Aletheia
Eu... Sim, então assim, acho que é importante, sabe? A gente desconectar, a gente desconectar, a gente se conectar. Essa coisa acho que vai fazendo um ciclo mesmo, né? Isso que é o mais gostoso e o mais importante. Então, é isso, assim, trazer possibilidades para quem nunca pensou em possibilidades. Essa é a ideia da Bittonga Travel.

2428.792
mulheresimigrantes
Esse vídeo das crianças é muito bonito de ver a pureza dessa curiosidade. Não vem desse lugar de apropriação, de tipo, eu acho que eu posso tocar em você ou no seu cabelo.

2446.749
mulheresimigrantes
porque você é diferente e foda-se, né? Tipo, você tem aqui, eu vou encostar, porque você assim, não, você consegue perceber dessa coisa da criança, tipo, nossa, olha que legal isso daqui, não tem essa malícia, não tem aquela pergunta de como você lava seu cabelo, como você faz isso, esse

2472.91
mulheresimigrantes
autoentitulamento quase assim de propriedade, de tipo, você é apenas um corpo existindo ali que tá servindo a minha curiosidade.

2484.155
mulheresimigrantes
Mas a gente consegue perceber a diferença da mesma coisa em relação a olhares na rua, na condição de mulher. A gente percebe quando é um olhar de tipo, nossa, a pessoa bonita passou, a pessoa diferente, legal, passou. E aquele olhar de malícia. E essa coisa das crianças também. Dava pra ver no olhar delas o encantamento.

2510.78
Rebecca Aletheia
A gente está falando de Namíbia, a gente está falando de África. Era uma mulher negra viajando, sabe? E talvez quem passe ali naquela comunidade sejam mais pessoas brancas.

2522.227
mulheresimigrantes
Sozinha. Sim.

2527.398
Rebecca Aletheia
Teve uma vez que eu fui a um quilombo enquanto enfermeira, na época da pandemia, em Goiás, quilombo calumbo. E eu fui com o pessoal do Ministério da Saúde e era muita gente engraçada.

2543.49
Rebecca Aletheia
Mas eram três pessoas brancas, eu e o motorista. Então, o motorista foi, levou a gente, o motorista era negrinho. Então, quando eu cheguei na casa, porque eu que estava fazendo toda a parte de planejamento estratégico, as crianças ficavam paradas assim, olhando. E uma das pessoas do Ministério da Saúde falou, sabe por que ela está te olhando? Eu falei assim, não. Foi porque acho que ela nunca viu alguém assim, tipo, do governo, alguém aqui.

2570.031
Rebecca Aletheia
como eles, ocupando esse cargo, alguém com o saber. Então, isso também impacta indiretamente, é a mensagem subliminar. O que a gente pode, o que essa menina vai levar? E tem muita gente que me segue e fala, eu vim de orfanato, e quando eu vejo você eu falo, caraca, foi essas pessoas que estavam ali, pensando comigo, sonhando comigo e pensando em possibilidades.

2598.985
mulheresimigrantes
Queria mudar um pouquinho de assunto e falar mais do seu livro. Você escreveu nesses livros contando a sua experiência sobre ser uma mulher negra viajante ao redor do mundo.

2603.916
Rebecca Aletheia
Uhum.

2613.882
mulheresimigrantes
da onde, como que você conseguiu falar, tipo, hoje eu vou ter mais um rótulo, vou ser escritora. E não só isso, processo de escrita e colocar no papel essas experiências, contar essas histórias e dos...

2630.981
mulheresimigrantes
desses insights que a gente acaba tendo enquanto viaja, experiência com outras culturas, tipo, cara, como isso me impactou? E de certa forma, eu quero levar outras pessoas comigo nessa viagem através da minha escrita, já que é uma coisa que você gosta muito de fazer também.

2648.712
Rebecca Aletheia
Sim, sim. Eu acho que assim, muitas coisas... Eu gosto de levar minha vida muito leve, sabe? Eu não quero ficar tipo, ah, eu tenho que fazer, eu tenho que fazer... Não, não tenho, não tenho que fazer nada, nada, nada. Mas se as coisas vão fluindo prazerosamente, eu acho que elas fluem. Então, a escrita, ela vem como um processo de cura, um processo terapêutico mesmo. Porque eu tinha ido para o Tajikistão, era tudo novo para mim.

2677.875
Rebecca Aletheia
Eu, na minha infância adolescente, eu amava escrever carta, sabe? Tipo, lia o livro Gibi, ou no Jornal de Domingo, que vinha o nome da pessoa e o endereço dela para mandar carta. Não sei, se você foi dessa época, eu escrevia para as pessoas.

2697.142
mulheresimigrantes
Eu acho que talvez fosse dessa época, mas eu confesso para você, na minha casa, a cultura de jornal não tinha. Eu lia gibi, lia revista, mas não jornal. Gente, que perigo o endereço das pessoas!

2707.722
Rebecca Aletheia
Olha só. No jib da Mônica tinha, tinha assim tipo, faça amiguinhos, né? E aí alguém colocava um endereço. Olha que loucura, né? Porque hoje a gente nunca passaria. Quer dizer, naquele momento não era perigo.

2728.063
Rebecca Aletheia
Né? Porque a gente não tinha essa coisa e era crianças que escreviam. E eu escrevia pras pessoas. Ah, eu tinha faço amiguinho. Então eu lembro que eu tinha uma amiga, a Agatha. Eu contava dos meus irmãos. Foi muito interessante porque ela devolveu todas as cartas pra mim. Recentemente. Então assim, eu era... Era a minha conta na minha vida, ela assim, sabe? Olha, a gente brilha com o meu irmão, a gente não sei o quê.

2728.507
mulheresimigrantes
Beleza.

2756.425
Rebecca Aletheia
E aí eu viajava, assim, cara, eu vou para um país que eu não sei nada, ninguém sabe nada. E aí eu queria contar tudo aquilo, mas assim, eu nunca pensava em livro. Não, era para mim que eu escrevia. E uma das cartas que eu paro de escrever porque eu entendia que não era todo dia que eu precisava escrever.

2775.879
Rebecca Aletheia
Mas depois eu volto e falo, não, eu estou escrevendo para mim. Estou escrevendo para mim. Por que eu estou escrevendo para mim? E aí ela vai fluindo, vai melhorando. Sabe, eu vou contando as coisas e ele vai ficando melhor, ele vai ficando mais interessante. A minha avó é parte desse mundo físico.

2795.179
Rebecca Aletheia
E eu também escrevo esse momento, então ele vai sendo muito terapêutico pra mim. Obviamente que aí quando eu chego em Moçambique, que já é outro país, a minha escrita é diferente. Aí hoje eu acho que eu já tô no segundo e terceiro, por isso que eu volto pro Brasil pra organizar essas escritas que são em forma de carta.

2813.2
Rebecca Aletheia
Mas que também ela... Eu quero mudar um pouco da minha escrita, né? Mas eu vejo que eram as cartas que me salvavam. Então eu ia e escrevia a carta, escrevia a carta. Aconteceu tal coisa. Ia lá e escrevia a carta. E foi lindo assim. Eu falei, não, eu vou lançar um livro. Vamos ver como vai ser. E foi ontem eu também andando assim.

2835.845
Rebecca Aletheia
Eu já vendi 1600 livros. E eu conheci um escritor na África do Sul, por sinal o rapaz é muito bom, e ontem ele estava celebrando 400 livros, e aí ele me liga e fala, Rebecca, eu vim de 400 livros. Ele é uma pessoa muito importante no país, assim, em Soweto.

2852.841
Rebecca Aletheia
Eu falo, cara, eu vendi 1.600 livros, olha isso, sabe? Quando chegou pra muita gente esse livro, então foi a prática de escrita como cura. E se a gente está aí, vivendo no mundo enquanto imigrante, a gente fala muito da terapia.

2875.606
Rebecca Aletheia
E falando com o meu melhor amigo, ele falou assim, eu precisava ir na terapia todos os dias. Eu falei, escreve, começa a escrever, porque eu acho que é uma forma da gente conseguir colocar pra fora, porque muitas vezes a gente não coloca, né? Pra gente conseguir organizar

2890.832
mulheresimigrantes
Até organizar os pensamentos ali, que às vezes você não consegue dar forma ou desenhar, gente, tenta dar estrutura para aquilo.

2905.547
Rebecca Aletheia
Quando lançou o livro, as pessoas falavam assim para mim, é a Rebecca do passado escrevendo para o meu futuro. E é isso, sabe, que quando eu olho para trás, eu falo, gente, olha só o que eu passei, o que eu escrevi, o que eu vivi. A parte que eu conto do ciclone é muito interessante, até o olho vai cheio de lágrima, porque a minha mãe não consegue ler.

2930.111
Rebecca Aletheia
essa parte do livro, que foi muito doloroso. Mesmo escrevendo, meu vô não lia. Meu vô também partiu.

2941.698
Rebecca Aletheia
E tinha outras mulheres, assim, que eu sou muito... Mesmo eu sendo viajante, eu sou uma pessoa que eu gosto muito de relações humanas, interações humanas. E tinha muitas senhoras no bairro que eu cresci, que elas gostavam, assim, de mim, sabe? Tipo, de amar, sabe? Tipo, de orar, de rezar por mim. Enfim, sempre perguntar. E elas não liam. Elas não liam. E aí eu faço livro, áudio, vídeo-book no YouTube.

2971.971
Rebecca Aletheia
para as pessoas assistirem e eu vou lendo o livro para elas e colocando as fotos. Para mim foi muito rico poder entregar um livro fora da forma escrita, porque infelizmente muita gente não lê.

2989.155
Rebecca Aletheia
Essa não é uma realidade, a gente não lê. Mesmo a gente morando no exterior, às vezes é algumas dificuldades de a gente encontrar o livro na nossa língua. E olha lá quando a gente fala, que às vezes tem muita gente que não fala a língua, a gente poder se conectar. Mesmo eu estando muito em trânsito, eu falei, gente, a gente já está no mês de abril, eu já li quatro livros. Então, o quanto isso inspira, o quanto faz a gente conseguir organizar pensamentos e entender.

3017.892
Rebecca Aletheia
que nem sempre um livro bom é um livro com mil páginas. Um livro bom precisa ser grosso, ou isso vai te fazer mais intelectual, mas a gente conseguiu ler livros de 50 páginas, um pouquinho, se permitir um pouco.

3033.968
mulheresimigrantes
Interessante você falar isso de algumas pessoas não saberem ler que, na década ali dos anos 80 e 90, taxas de analfabetismo eram algo muito reportado. E teve inúmeras campanhas.

3057.483
mulheresimigrantes
Principalmente, crianças conseguiram colocar muitas crianças na escola, só que aí tem essas pessoas adultas que, às vezes, o máximo que sabem é assinar o próprio nome e tal. E quando a gente pensa nas taxas atuais, quando a gente fala só uma porcentagem, parece um número tão baixo, que eu procurei aqui agora os dados

3081.988
mulheresimigrantes
do Jornal da USP, falando que as taxas em 2022 eram de 5,6%. Gente, é um número pequeno quando a gente pensa em porcentagem. Só que o que isso significa em questão de indivíduos para a questão da população que tem no Brasil? São mais de 10 milhões de pessoas.

3105.374
Rebecca Aletheia
É muita gente, muita gente, a gente não tem a dimensão e não é só ler.

3110.828
Rebecca Aletheia
Porque quando a gente vai para a escola, e isso acontece também muito na língua inglesa, quando a gente está aprendendo uma outra língua, é exercício de interpretação de texto. Porque ele vai dizer... O que você entendeu? É a primeira pergunta. É...

3122.363
mulheresimigrantes
Nossa, o céu que falta, gente do céu que falta também, olha, de interpretação de texto. E de muita gente, assim, muito bem alfabetizada, muito bem obrigada, nível universitário para cima, tá? Falta, falta compreensão.

3137.739
Rebecca Aletheia
Então, não é só ler, né? Então, ele pega um número bruto que, às vezes, a pessoa fala, mas, tipo, é a falta de... Tipo, não é só ler, é você conseguir entender, é você conseguir, né? E também poder escrever. E uma das coisas que eu tinha muito medo, e eu achava, acho que é a síndrome realmente da impostora, eu vim de uma educação deficiente.

3164.65
Rebecca Aletheia
Eu vim, isso para mim era sabido. Mas eu fui audaciosa, porque quando eu li o livro da Carolina de Jesus, e o livro que mais vende dela, e até de novo, me emociono, que é o do Quarto de Despejo, o livro que mais vende é o que tem erros de português. E ela escreveu, ela não teve medo,

3192.892
Rebecca Aletheia
E ela escrevia, a mensagem dela estava lá, então acho que muitas vezes a gente... E ela fala, né, que o marido falava, você está escrevendo por quê? Está escrevendo para quê? E a gente precisa fazer esse exercício mesmo, tipo, eu estou escrevendo para mim. E ela falava, eu estou escrevendo para mim, um dia eu vou ser escritora. E aconteceu, né? É tipo, obviamente ela falava, um dia alguém vai me ler, um dia alguém vai me ler e um dia alguém leu. Eu escrevia para mim. E eu falava, se está errado, está tudo bem. Ali está o meu sentimento, né?

3221.937
Rebecca Aletheia
Tanto que, até para traduzir para o inglês, eu ficava meio que assim, ah, e será que vai perder o sentido? Pode perder o sentido? Mas estava ali, estava para mim, sabe? Estava feito e era muito tipo essa paz que vinha e quando eu vi outros livros eu falava, nossa, tem erro, mas tudo bem ter erro, né? Porque eu não estou aqui para passar na universidade, para um doutorado. Isso não, por mim, é para mim.

3250.691
mulheresimigrantes
Mas porque a vida também é assim. A gente também tem erros. Porque esse podcast para mim também ainda continua sendo, mas principalmente no início, aquela coisa do homem hétero querer dar palpite quando você principalmente nem perguntou. Ah, mas você já pensou em fazer desse jeito, não sei o quê? Não, esse podcast é para mim. Acima de tudo, eu faço ele para mim.

3281.903
mulheresimigrantes
por mim e por outras, mas ele é para isso. E ele vai continuar evoluindo de uma maneira que ele continue sendo.

3287.756
Rebecca Aletheia
Uhum.

3294.514
mulheresimigrantes
com essa essência do começo de que é um podcast pra mim, que não vai vir nenhum homem falar pra mim, ah, mas você podia dar dicas de migração pra Austrália, de visto de estudante. Não é o meu objetivo, não é o que eu quero. Se você quiser, você que cria o seu falando disso.

3319.633
mulheresimigrantes
e eu quero ler o seu livro com talvez um possível erro de concordância, porque é assim que a gente faz a vida.

3332.065
Rebecca Aletheia
Acho que quando a gente migra, ou a gente viaja, ou a gente toma qualquer decisão da nossa vida,

3339.582
Rebecca Aletheia
Obviamente a gente pensa que não vai ter erro, mas se errar, e eu falo isso muito para o meu time de mentorado, assim, gente, o errado, ele é tão certo.

3353.063
Rebecca Aletheia
o errado, a gente não tem noção do quanto o errado é muita coisa boa. Já pensou o ciclone, foi uma coisa errada, foi a pior coisa, mas ela foi tão boa pra mim emocionalmente, fisicamente, mesmo me emocionando, mesmo que eu tive alguns traumas de não poder ver chuva, mas ela me construiu de uma forma tão imensa, então uma coisa

3378.456
Rebecca Aletheia
ruim, realmente, não sei se aquilo não é ruim, se acha que vai morrer esse monte de coisa, mas o quanto aquilo te transforma, sabe? Então, a gente conseguir ver algo positivo assim, sabe?

3393.046
Rebecca Aletheia
de um erro, de uma dor, e tá tudo bem. Não deixa, não tem problema. Tinha uma frase que eu falava assim, mon amour, bon dia mon amour, mas era um francês, porque eu mostrava muito em português, assim, sabe? E eu falava assim, ai, que não sei o quê, descrito errado, a galera francesa vinha assim. E eu assim, não, mas a ideia é o errado mesmo, é o errado, porque é brasileirado, sabe? É a nossa história, a nossa cultura, e a gente não precisa ficar justificando pro outro.

3410.418
mulheresimigrantes
Ah, desce.

3422.125
Rebecca Aletheia
A gente tem que fazer, a gente tem que ir lá e faz assim. É melhor o feito do nosso jeito do que o não feito.

3432.09
mulheresimigrantes
Engraçado você falando, agora eu lembrei de uma música do Teatro Mágico, o Zazulejo, que tem numa certa parte da música, tem pessoas falando palavras erradas. Ai gente, agora... Ai gente, esqueci. Mas escutem aí a música Zazulejo do Teatro Mágico.

3456.852
mulheresimigrantes
E é engraçado porque até aqui em casa, conversando com a minha cunhada adolescente e com o meu marido e tal, tem algumas palavras que a gente gosta de falar errado.

3470.162
mulheresimigrantes
Porque sou a melhor, porque é engraçado. É triste a gente achar que só quem fala perfeitamente e escreve com tudo que sabe. Gente, eu não sei a diferença dos quatro porquês e como escreve todos os porquês. E se eu escrever o porquê errado, você vai entender o contexto do negócio. Então me erra.

3500.772
Rebecca Aletheia
Acho que aqui fica um grande aprendizado para mulheres imigrantes, para as pessoas que estão viajando da língua. É isso, se a gente não tem medo de errar, a gente nunca vai falar.

3514.48
Rebecca Aletheia
a gente nunca vai se comunicar no país, assim, não tenha medo de errar. E aí, se você tem a síndrome de infestora, né, ai eu tenho vergonha, hoje eu não tenho vergonha de falar, tal, mas, porque eu vi muito europeu vindo pro Brasil e eu trabalhei com muito

3514.735
mulheresimigrantes
Valeu.

3532.599
Rebecca Aletheia
Então, a gente tem o mesmo cargo, algo do tipo, e eu falo assim, cara, tu não fala português, sabe? Mas eles ensinam a sua maioria homens, brancos, europeus, sabe? Ele não tem medo, eles aprendem isso na escola.

3548.37
Rebecca Aletheia
Não tem medo. Fala, arrisca. Mesmo que você não consiga falar, vai se arriscando, porque depois um momento você vai estar melhor assim, sabe, mais fluente. Não procure a perfeição. Erre, tente. Ah, eu estou na Holanda, não falo holandês. É tipo, isso. Você vai se comunicar. A gente vai conseguir se comunicar.

3567.773
Rebecca Aletheia
Errar. Não tenha medo de errar. E você já, até quem está ouvindo, já é uma vencedora. Não é fácil migrar para outro país. Talvez você já chegou falando a língua. Tem gente que chegou não falando a língua, mas você já escor. Então, de todas as coisas que você já fez nessa vida, eu já sou muito orgulhosa. Eu nem conheço vocês, mas eu já sou orgulhosa. Toda vez que alguém fala meu emigre, eu falo, nossa, parabéns, porque não

3597.5
Rebecca Aletheia
É fácil, eu admiro cada uma dessas mulheres.

3601.237
mulheresimigrantes
Gente, mudar de cidade dentro do próprio Brasil, mudar de estado. Gente, às vezes mudar de bairro já é difícil. E é isso, faz parte da gente ir se descobrindo. E nesse descobrimento, como foi que você descobriu o nome que você queria dar para a sua agência de viagens, que a gente não falou aqui ainda?

3629.872
mulheresimigrantes
E eu queria que você contasse um pouquinho da história, dessa palavra, desse nome e o que que exatamente vocês oferecem de serviço para quem gostaria de viajar com vocês.

3646.288
Rebecca Aletheia
A Bitonga Travel é um povo, é uma etnia moçambicana que fica na região de Nhanbani. Nhanbani é conhecida como terra de boa gente. Realmente, as pessoas são incríveis. Então, em 2016, quando eu falei que eu quero morar em Moçambique,

3669.275
Rebecca Aletheia
E vi esse chamado. Eu fui para essa região, Jinhambani. Esse ano eu fui de novo, lembrar isso. E eu ouvia as pessoas falando, e eu falava, gente, que língua linda, que língua linda, que língua. Ai, eu fiquei apaixonada por aquelas pessoas, por aquela língua. E eu falei, bitonga, é isso, bitonga, bitonga. E aí, a gente teve um encontro, uma viagem para Guarijá.

3696.578
Rebecca Aletheia
com mulheres e homens negros. E a gente queria pensar em uma proposta de pessoas que viajavam. Queria conversar, eu queria poder ter a possibilidade de encontrar mais pessoas como eu e também fazer essas conexões. E aí, sabe, a gente precisa de um nome. Aí eu falei assim, ah, um nome é bitonga, bitonga é travel. E assim, eu não gosto muito de usar palavras em inglês, mas eu acho que viagem não resume o que travel pode resumir, sabe?

3726.971
Rebecca Aletheia
Viajar, a gente sempre lembra de algo distante, a gente pensa tipo, uau, né? E travel, se a gente for traduzir, ele fala sobre percorrer, transitar, viajar também.

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Rebecca Aletheia
E ele vem com outras coisas que vão muito além do que a gente pensa de viajar. Quando alguém fala, eu vou viajar, eles falam, que legal! E a gente pensa em uma bala de rodinhas, a gente pensa em vião, a gente pensa em um monte de coisas, a gente pensa em ônibus, a gente pensa em estrada. Mas nem sempre a gente pode...

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Rebecca Aletheia
permear a gente poder transitar pelo nosso espaço. E isso é uma coisa que eu sempre digo. Ah, eu quero ser viajante igual você. Eu falei, se você não viaja na sua cidade, se você não viaja no seu bairro, você pode ir para qualquer lugar do mundo, você vai ficar dentro de casa. Você não vai ter esse espírito. Então é algo que a gente vai ter que fazer pouco a pouco, sabe? Começando assim com a lição de casa. E aí foi. A gente é um coletivo, né? Enquanto mulheres é um coletivo empresa também.

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Rebecca Aletheia
que a gente realiza experiências, então são desde tour. A gente fez uma viagem de mulheres negras na Europa, que foi para Paris. A gente fez um encontro em Londres, a gente já foi para Bélgica.

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Rebecca Aletheia
Fizemos uma viagem para a Colômbia com 25 mulheres, que é o maior festival de música afro na América do Sul. Foi a coisa mais linda. A gente fez agora a Fica do Sul, um intercâmbio de 30 dias. Então a gente vai realizando essas atividades, tem desde

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Rebecca Aletheia
Um site que dá dicas de viagem. Tipo, como vou viajar, o que eu posso fazer, destino. Mas escrito de gente igual a gente, né? E acho que isso é o mais enriquecedor. A gente também tem um podcast que chama Bitonga Travel, que fala de destino, assim. Acho que a maior ideia é pensar gente como a gente. Sabe, assim, é a pessoa igual a mim, né? E então...

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mulheresimigrantes
Bem, esse podcast é exatamente por isso também. É de mulheres comuns, entre grandes aspas, sem nada de especial. Mais uma. Gente, que incrível.

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Rebecca Aletheia
Então é isso, assim, é trazer o que a gente pode. E o nosso diferencial também são mulheres de 18 a 70 anos. Já vinha de mulheres de 75 anos, de ir pra Colômbia, que nunca foi... O nosso tempo é diferente, infelizmente. Quando eu fiz intercâmbio de língua inglesa foi...

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Rebecca Aletheia
2013. Me lembro quantos anos eu tinha. Trinta... Não, trinta e... É, tinha vinte e sete anos. Entende? Eu fiz meu intercâmbio com vinte e sete anos. Hoje a gente foi para um intercâmbio que foram mulheres de sessenta anos. Então é a gente... Mesmo que o nosso tempo tá diferente, ok? A gente ainda pode. Não há tempo assim, sabe? Então a gente pode tudo. Uhum.

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mulheresimigrantes
É o tempo certo sempre, né? E quais são os desafios em ser mulher ou imigrante que você já passou nos seus lugares inusitados de moradia, mas também quem sabe aí de viajante?

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Rebecca Aletheia
Acho que um dos problemas que eu já passei é a questão de racismo e assédio, sabe? Isso é o que me afeta muito, porque primeiro que a gente está emigrando num país e todos esses países não importam quem você é, de onde você veio,

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Rebecca Aletheia
xenofobia também, dessa questão do sul global, deles não entenderem que você tem conhecimento, que você pode ocupar esse espaço, que você fala, então isso sempre é muito tipo questionado. Na altura da minha vida, eu com

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Rebecca Aletheia
mais de 10 anos que trabalhei na área da saúde, eu não preciso provar quem eu sou, sabe? Então isso é muito ruim, isso é muito danoso, mesmo a gente falando de países de

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Rebecca Aletheia
considerada em primeiro mundo, mas com muitas aspas, é sempre muito questionado. Então, para mim, sofrer racismo, questões de gênero, questões de território, xenofobia, é muito pesado. Então, para mim, isso foi o que mais afetou. Obviamente, muitas mulheres imigrantes, elas vão dizer, ah, eu nunca sofri isso. E uma das minhas respostas é, ocupe um lugar de poder.

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Rebecca Aletheia
ocupa o lugar de poder para você ver. Depende da posição, do lugar que você está. Isso não vai ter, mas eu tinha um cargo altíssimo na Europa. Altíssimo.

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Rebecca Aletheia
E isso era questionado, né? E às vezes de formas muito subliminares, né? Então, a gente precisa pensar isso, a gente espera, né? De quem pra quem que a gente está falando. Então, isso pra mim doeu muito, são microviolências.

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Rebecca Aletheia
que afeta a gente, que pode paralisar a gente, que pode afetar, principalmente por essas questões também climáticas, porque são países não só de pessoas, mas são frios, que você não tem rede de apoio, e como que a gente precisa estar muito bem mentalmente para a gente não surtar, não pirar e não fazer desse sonho ser um peso, sabe?

4088.302
mulheresimigrantes
Rebecca, foi um prazer conversar com você. Eu agradeço muito pela sua presença. Mas antes de terminarmos, vamos para a nossa lupa cultural, que é aquele momento de indicação de trabalhos feitos ou protagonizados por mulheres. Começando por você. Bom, a gente já tem alguns seus aqui, né? Então, gente,

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Rebecca Aletheia
Ah, ó o seu... Bora. Isso.

4111.852
mulheresimigrantes
Bitonga Travel, tem a empresa em si, tem o podcast. Então, gente, vou deixar o link aqui também. Tem o livro. Qual que é o nome do livro pra você já dar? Eu já tenho aqui escrito, mas, né? Fale você mesma.

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Rebecca Aletheia
Escrever e viver, sabe assim? Você vai escrever e você vai viver. Escrever e viver junto. Cartas de uma viajante negra ao redor do mundo. Sim, esse é o nome do livro. Eu ponho meu nome lá, né? Rebecca Aletheia, na Amazon você consegue encontrar, você pode ver no livro lá no Kindle.

4153.716
mulheresimigrantes
E aí, o que você tem consumido por aí que você gostaria também de deixar de indicação para as nossas ouvintes?

4161.165
Rebecca Aletheia
Eu tô lendo esse mês de abril, o dia 19 de abril foi comemorado o Dia das Pessoas Indígenas, e eu tô lendo um livro que eu acho que muitas pessoas precisariam ler. Eu tô lendo um livro que eu vi na casa da minha amiga e eu sou aliciada por um livro.

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Rebecca Aletheia
que é sobre afeto, que é Gene Nunes, que ela fala sobre essa coisa do afeto de uma forma indígena. Então, acho que vale a pena ler esse livro para a gente pensar.

4197.568
mulheresimigrantes
Gente, vale a pena seguir o Instagram dela, que é ótimo também.

4207.079
Rebecca Aletheia
Descolonizando afeto, experimentações sobre outras formas de amar. Então, acho que é uma dica, assim, às vezes a gente lê muitas pessoas, mas eu já indiquei no livro, enquanto uma mulher negra,

4219.787
Rebecca Aletheia
Mas a gente pensar em mulheres indígenas, a gente pensar que nós enquanto brasileiras somos afros, somos indígenas e que a gente precisa muito conhecer as nossas origens, as nossas raízes, que a gente pode estar em qualquer lugar do mundo.

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Rebecca Aletheia
a gente entende que o Brasil é só Brasil. Mas o Brasil não é só São Paulo, não é só Rio, não é só Bahia. O Brasil é Brasil. Então, são vários países e a gente precisa realmente entender a nossa história, a nossa cultura, para a gente conseguir mostrar também para o mundo, além do território que a gente viveu e que, infelizmente, a gente não pode andar todo o Brasil, mas que a gente possa compartilhar mais nossas culturas.

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mulheresimigrantes
E durante a nossa conversa também você comentou de outro livro, gente, então eu vou colocar aqui na listinha de indicação, que é o Quarta de Despejo, na Carolina.

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Rebecca Aletheia
Carolina Maria de Jesus, acho que é incrível a gente poder ler.

4284.104
mulheresimigrantes
Aí eu li uns livros recentemente, gente, mas eu não gravei o nome, então vai ficar para uma próxima gravação. Mas eu tenho uma...

4297.244
mulheresimigrantes
A animação barra tipo minissérie da Disney Plus, que é uma animação que passa numa Nigéria afrofuturista, que chama Iwaju. É lindo demais. Ah, é coisa mais fofa. É incrível. Passa tipo... E mostra muito essa coisa da... Diferenças de classe. Então...

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Rebecca Aletheia
É.

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mulheresimigrantes
a ascensão social que, por uma questão de você querer fugir da violência, você acaba isolando, quase que assim, num castelo os seus, para que nada de fora consiga penetrar esse castelo, mas...

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mulheresimigrantes
criança é criança e quer descobrir, quer desbravar e essa coisa do... Eu quero saber de onde você vem, pai e mãe. Eu quero saber da sua história, eu quero conhecer um pouco mais disso. E como que uma menininha vai, assim, querendo desbravar e o controle do pai de querer protegê-la de tudo?

4374.565
mulheresimigrantes
Só que, como você mencionou durante a nossa conversa dessa cultura capitalista que é o que temos vigente de trabalhar tantas horas por dia, esse pai criou tudo isso de infraestrutura para essa criança, para que ela fosse protegida, mas ele não passa tempo com ela.

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mulheresimigrantes
E às vezes tudo que ela quer é uma fagulha ali de afeto. Que nem no próprio aniversário... Gente, super spoilers aqui, tá? Mas lidem com isso. Que nem no aniversário da menina, o trabalho tá ali tomando mais tempo. Então fica a dica, gente. Vou deixar todos os links aí pra vocês acharem direitinho, mas é lindo. É linda essa animação.

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Rebecca Aletheia
Passe a cheia, passe a cheia.

4425.435
mulheresimigrantes
E... Ah! Gente, Fabiana sempre me dá um treco. Rebecca, qual que é o seu arroba? Onde as pessoas te encontram? Pra saber um pouco mais e acompanhar as suas andanças pelo mundo.

4437.193
Rebecca Aletheia
Então, é Rebecca com dois Cs, Aletheia com TH. Esse é o meu nome e aí vocês vão me achar nas redes sociais, vão me achar no podcast também, é só colocar o meu nome e aí vocês vão achar Rebecca com dois Cs, Aletheia com TH.

4459.138
mulheresimigrantes
Gente, o podcast tem mais de 150 episódios, então vão lá maratonar, que tem bastante dica de inúmeros lugares do mundo inteiro e do Brasil. Muita coisa do Brasil também, gente, porque Brasil é bom de viajar, não esqueçam disso.

4466.613
Rebecca Aletheia
E aí

4479.002
mulheresimigrantes
Rebecca, eu amei. Agradeço muito a sua disponibilidade de conversar com a gente. Agradeço muito. E, gente, vão também lá nos seguir no arroba mulheres imigrantes pod. A gente também deixa aí todo o conteúdo, tudo linkado. E vão lá conhecer a Rebecca.

4499.202
Rebecca Aletheia
Muito obrigada, Barbara, e muito obrigada a todas as mulheres que chegaram até aqui nesse podcast. Sinal que a conversa foi gostosa. A gente não pode ter esse contato, mas é isso mesmo. Vão lá, manda mensagem, eu respondo. Eu adoro responder. Eu adoro ter essa interação, porque eu amo gente. Eu amo pessoas, eu amo muito essa troca. Então...

4522.568
Rebecca Aletheia
a gente se ajuda, a gente se apoia, a gente pode fazer essa troca, então fiquem à vontade. E eu desejo muito, muito, muito sucesso, muita prosperidade aí pro seu programa de mulheres imigrantes. Conte comigo sempre, eu acho que a gente inspirar outras mulheres é fundamental. Parabéns, Barbara, pelo seu trabalho. Não desista, continue, persista e saiba que tem aqui uma pessoa que te admira e que deseja muitas coisas boas pra esse podcast.

4552.568
Rebecca Aletheia
Exatamente, arrastou.

4553.37
mulheresimigrantes
Ah, muito obrigada, gente. Olha, sejam igual a Rebecca, nos apoiem. Manda para as amigas, manda publi, manda gente para patrocinar o podcast, manda tudo. E vão também no apoia.se da Rebecca, que tem lá no link da página dela e também no nosso, viu, gente? Cada mulher apoiando outra mulher, a gente vai muito mais longe.

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Rebecca Aletheia
Uhum.

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mulheresimigrantes
Muito obrigada, gente que nos escutou até aqui e até o próximo episódio.