Mulheres Imigrantes

#82 - Palavras com Dandara Reis

May 11, 2024 Mulheres Imigrantes Season 4 Episode 82
#82 - Palavras com Dandara Reis
Mulheres Imigrantes
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Mulheres Imigrantes
#82 - Palavras com Dandara Reis
May 11, 2024 Season 4 Episode 82
Mulheres Imigrantes

Manda uma mensagem pra gente!

No episódio de hoje, a entrevistada é Dandara Reis, @reisdandara, natural de Volta Redonda/RJ, atualmente imigrante em Melbourne/Austrália. A engenheira agrícola de formação, chegou na Austrália com $150 dólares no bolso para fazer um intercâmbio que, segundo ela, nunca imaginou ser possível.

Dandara falou sobre a difícil experiência de perder um ente querido às vésperas de ingressar em um estágio. Essa perda a levou a tomar a decisão de emigrar para a Austrália. 

Nascida no Rio de Janeiro, Dandara contou sobre o seu sonho de ser uma escritora famosa, e abrir uma cafeteria com uma livraria, em Melbourne. 

A educadora, que trabalha com crianças deficientes e neurodivergentes, conversou sobre a sua vivência em comunidades indígenas na Austrália, e como isso abriu seus olhos para conhecer uma Austrália que poucos imigrantes tem contato. 

Esse episódio foi patrocinado por Tagarela Migration, uma agência de confiança em processos de imigração para a Austrália, sigam no instagram @tagarela_aus
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Lupa Cultural:
Camila, cabeleireira - @hairbycamimelbourne
The Handmaid’s Tale, série - @handmaidsonhulu
Olhos que condenam, série - @whentheyseeus
Em Busca de Mim, biografia de Viola Davis - @violadavis
Sankofa, livro - @reesesbookclub
Fios de Outono, livro de Dandara Alves Reis - @reisdandara
The Last Daughter, documentário - @thelastdaughterfilm
Cova, episódio de Não Inviabilize - @naoinviabilize
Cemitério, episódio de Não Inviabilize

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Este podcast é uma produção independente, realizado e idealizado por Barbara dos Santos

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Manda uma mensagem pra gente!

No episódio de hoje, a entrevistada é Dandara Reis, @reisdandara, natural de Volta Redonda/RJ, atualmente imigrante em Melbourne/Austrália. A engenheira agrícola de formação, chegou na Austrália com $150 dólares no bolso para fazer um intercâmbio que, segundo ela, nunca imaginou ser possível.

Dandara falou sobre a difícil experiência de perder um ente querido às vésperas de ingressar em um estágio. Essa perda a levou a tomar a decisão de emigrar para a Austrália. 

Nascida no Rio de Janeiro, Dandara contou sobre o seu sonho de ser uma escritora famosa, e abrir uma cafeteria com uma livraria, em Melbourne. 

A educadora, que trabalha com crianças deficientes e neurodivergentes, conversou sobre a sua vivência em comunidades indígenas na Austrália, e como isso abriu seus olhos para conhecer uma Austrália que poucos imigrantes tem contato. 

Esse episódio foi patrocinado por Tagarela Migration, uma agência de confiança em processos de imigração para a Austrália, sigam no instagram @tagarela_aus
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97.944
mulheresimigrantes
Olá, mulheres imigrantes! Eu sou Barbara do Santos, paulistana da Zona Leste e imigrante em Gold Coast, Australia, há 17 anos. Convidada deste episódio é natural de Volta Redonda/Rio de Janeiro. Apaixonada por contar histórias, música e fotografia, integration aid por profissão e turista de cemitério nas horas vagas, Dandara Reis. Seja muito bem-vinda e, por favor, se apresente melhor as nossas ouvintes. Quem é a Dandara na fila do passado?

129.599
Dandara
Meu Deus! Obrigada pelo convite, primeiramente. É o meu primeiro podcast, estou muito feliz em participar. Adorei esse sumário que vocês fizeram em comecinho, achei bem legal. A Dandara do passado é uma pessoa muito, eu diria assim, louca e aberta ao mesmo tempo, né? Eu sempre fui uma pessoa assim, muito...

152.176
Dandara
Eu nunca pensei muito, sabe, antes de tomar decisões, e eu sempre fui aberta a fazer de tudo, né? Eu sempre me fiei muito buraco, inclusive, porque eu sempre tive essa abertura, né, que algumas pessoas chamaram até de curiosidade, pra experimentar de tudo, pra fazer de tudo. Então, eu, com os meus amigos na infância, cada história, inclusive, né? Eu gosto muito de escrever, e vira e mexe me vendo a cabeça, cara, eu deveria escrever um livro sobre a minha adolescência, minha infância.

175.902
Dandara
Porque, cara, tem história pra tudo que é gosto, né? Ser em um livro de ficção, de romance, de drama, de contar essa história, tudo ao mesmo tempo. Porque eu vivi muita coisa mais nova, assim, sabe? Hoje na minha vida aqui na Austrália não é muito, mas calma, a gente sabe que o ritmo da Austrália é diferente do Brasil. Mas no Brasil a gente crescia.

195.196
Dandara
na rua, né? Sabe esses filmes americanos que a gente vê as crianças, sei lá, indo pedalar o dia inteiro? Minha vida foi bem aquilo. Então, você vê muita coisa, você presencia muita coisa, coisa que às vezes você nem quer, né? Então, minha vida foi bem doida, assim. Uhum.

212.824
mulheresimigrantes
E a gente vai chegar lá, porque eu sei que tem muita história, e você como uma boa contadora de histórias, nós queremos escutá-la. Mas vamos então, no começo da nossa conversa, querer saber o que foi que te levou a sair do Brasil. E é interessante que você fala que algumas coisas que você fez no seu passado, pessoas falariam que foi levado por uma curiosidade, mas outras falariam também que seria uma impulsividade, não?

242.944
Dandara
Muita impulsividade. A minha história de vir pra Austrália foi uma decisão completamente impulsiva, né? Eu tava pra me formar, recapitulando um pouquinho, na verdade, eu cresci numa família pobre, eu nunca tive aspirações nem de, sei lá, visitar outros países em sonha, né? Sempre ver coisas na internet, nos livros, ah, eu gostaria de ir naquele lugar, mas nada assim, tipo, um dia eu vou lá, sabe? Eu nunca cheguei, eu nunca nem me permiti

269.701
Dandara
essa coisa do... tentar conquistar uma viagem internacional porque, na minha cabeça, a minha realidade seria me formar, né, com muita... com muita esforço conseguir entrar numa faculdade federal, me formar, conseguir um emprego na área e, tipo, me deslanchar ali, mas era o meu Goal, as minhas metas de vida eram todas profissionais, né, não tinha nada muito pessoal envolvido.

294.789
Dandara
Só que eu tava ali pra me formar, né, me formei na Federal Rural do Rio de Janeiro, Engenharia Agrícola, e aí eu tinha ido no prédio principal pra poder dar entrada, agora não lembro se foi pegar alguma coisa de documento pra refazer meu estágio e tal.

309.77
Dandara
porque naquela época eu fazia muita coisa, eu era membro de diretório acadêmico, eu era vice-presidente, eu tinha acabado de fundar um grupo de estudos, eu fazia monitoria, eu era monitora, eu fazia estágio interno na universidade, então eu estava muito atribulada, né? Porque como eu falei, o meu golo era tipo, eu vou fazer o máximo de coisa possível porque uma boa profissional é você. E aí nessa de entregar o meu documento, né, buscar aliás o formulário para preencher sobre o estágio, eu encontrei uma amiga de uma amiga,

336.408
Dandara
ali no prédio e ela tava indo dar entrada no diploma dela. A gente parou pra conversar sobre aquela coisa de estar se formando e não ter muita aspiração, porque conseguir estágio é difícil, conseguir emprego assim que você se forma é difícil. Ela falou assim, ah cara, eu vou passar um tempo na Austrália. Eu falei, o que é isso? Aquela que nunca tinha ouvido falar de Austrália.

357.329
Dandara
A gente sabe o nome do país, mas não entende bem como funciona, né? Até porque a maioria dos brasileiros, quando a gente pensa em morar fora, é Estados Unidos e Europa, né? Muita gente fica muito resumida nesses dois. E aí ela começou a falar que ia fazer um intercâmbio e tal, falou assim por alta, fiquei interessada, fui pesquisar, falei, putz, parece mais fácil do que ir para os Estados Unidos, né?

378.66
Dandara
E aí, falei, beleza, vou pra Austrália também. Só que eu não tinha noção nada do financeiro. Não sabia como funcionava o lado financeiro pra ir pra outro país. Pra mim, você comprava a passagem e pagava o visto e você podia ficar lá o quanto você quisesse. Não tinha noção de nada, né?

393.985
Dandara
Só que eu também não imaginava que, por exemplo, uma passagem seria caríssima. Eu não imaginava que eu teria que fazer, sei lá, um intercâmbio, alguma coisa que seria caríssimo. E eu saí, na minha cabeça, eu falei assim, eu vou pra Austrália. E aí, depois, como eu me deparei com esse lado financeiro, eu falei, putz, como é que eu vou pra Austrália? Aí eu tinha uma tia que, ela foi assim, a família abriu alas, ela falou assim, não, beleza, quando você precisa? Aí, posso falar valores aqui? Posso falar valores?

423.831
mulheresimigrantes
Você fala o que você quiser do jeito que você quiser. Se você quiser mais uma da tia, obrigada a tia, viu? Pode falar.

428.252
Dandara
Tá bom. Então tá bom, tinha uma tia, e aí eu falei assim, ah, eu queria muito ir para Austrália e tal, eu tinha ido na Igali, tinha uma Igali ali na minha cidade, pertinho da minha casa, e aí eles tinham passado todo o negócio financeiro, eu nem sabia que tinha outras agências, na verdade, naquela época.

449.753
Dandara
Cheguei e mostrei os documentos pra minha tia, eu falei, ah, eu preciso pagar tanto, esse dinheiro precisa estar na sua conta por três meses. Ela falou, não, peraí que a gente vai dar um jeito. Aí minha tia conseguiu pagar, tipo, sei lá, 98% do intercâmbio pra mim. E foi uma loucura, porque assim que eu paguei o intercâmbio, eu consegui um estágio na empresa que eu queria, meu sonho.

469.923
Dandara
E aí eu adiga um pouquinho pra aí, e aí eu tava contando também que meu pai ia me ajudar financeiramente, né, a vir pra Austrália, meu pai faleceu, então foi muita coisa, eu cheguei na Austrália com 150 dólares no bolso, um emprego de alpé, e dali eu vivi. Fiquei na era.

484.172
mulheresimigrantes
Olha, eu já escutei muita história de gente, ah, cheguei aqui com mil dólares, ou com quinhentos, e não sei o que. E que a gente sabe que, falando de quinze, vinte anos, às vezes dez anos atrás, que, gente, mesmo se fosse hoje, tipo, é pouquíssimo dinheiro. Ou naquela época que as coisas eram mais baratas. Mas cento e cinquenta dólares. Não paga... Não pagava uma semana de acumulação.

508.524
Dandara
150 dólares e eu tinha 15 reais. Exatamente, eu tinha 15 reais, que eu tenho esses 15 reais até hoje aqui comigo. E assim, porque que aconteceu? Eu tinha pago meu intercâmbio, acho que em agosto, e aí...

517.79
mulheresimigrantes
Nutira!

530.0
Dandara
Primeira semana de setembro eu consegui esse estágio, que seria para ir em janeiro, janeiro era quando seria a minha viagem. E aí, a dia da minha viagem e tal, meu pai não, meu pai também não tinha condições financeiras tranquilas, então hoje eu tenho noção que ele faria um empréstimo, ele não me contou, porque senão ele sabe que ia falar, não, isso foi em 2018, aliás, 2017. E aí, falei, beleza, minha tia pagou meu intercâmbio, meu pai vai me ajudar financeiramente, o que eu conseguir do estágio vai ser lá dentro.

558.882
Dandara
E aí também eu fui tão sortuda aqui naquela época, minha prima trabalhava na IT Rad, companhia aérea, e ela me colocou como uma das dependentes dela, então eu paguei R$500 para vir para a Austrália, sabe, de passagem de avião. Então assim, o universo é meio compartilhado para mim.

571.459
mulheresimigrantes
Nossa, que ajuda, hein?

575.964
Dandara
Foi assim, tudo acontecendo e eu, na minha cabeça, eu só falei que eu só preciso chegar lá, né? E aí, quando foi dezembro, dia 15, um dia pra mim também inesquecível, porque é meu aniversário, e meu pai sempre foi a primeira pessoa a me ligar pra dar os parabéns. Ele me ligava às sete horas da manhã só pra ser o primeiro.

595.162
Dandara
Naquele dia, eu dormindo, acordei com meu celular cheio de mensagem do meu irmão, né? E eu e meu irmão, a gente não é muito descomunicar um com o outro. E aí eu liguei pra ele, ele falou, ó, o pai tá no hospital e tal. Meu pai tinha uma doença de Guillain-Barré, que até naquele momento eu não sabia. Aí sai correndo pra ele ver meu pai no hospital, meu pai já tava assim no estado, que ele não falava mais, paralisou o corpo inteiro. Ele não falava mais, ele se mexia. E aí ele foi piorando, piorando, piorando, e ele faleceu em janeiro, né?

625.316
Dandara
Inclusive, eu não cheguei aí no velone, nada, porque meu pai, ele estava muito ruim, ele já tinha tomado os medicamentos todos, né? Mas aí a minha tia, uma outra tia minha, que ela era enfermeira do hospital onde meu pai estava, eu sentei pra ter uma conversa com ela no ano novo, assim, lembra naquele ano a minha família não quis fazer nada, mas eu sentei eu, ela e um outro primo no ano novo. Eu falei, tia, me conta a real, porque minha mãe tinha falecido quando tinha 18 anos e até o último segundo todo mundo falava pra mim que a minha mãe ia se curar, né?

652.415
Dandara
Mas eu acho que eles já sabiam e estavam tentando, assim, me proteger. E aí eu falei, tia, me conta a real, meu pai vai melhorar, ela nunca vai esquecer as palavras, ela falou só, olha, não sei o que seu pai está esperando pra fazer passagem, né? Eu acho que ele está esperando, sei lá, pro seu avô vir buscar, porque meu avô faleceu ali em Janeiro também, né? Meu pai e meu avô eram muito juntos. E aí, é...

673.319
Dandara
Numa quinta-feira fui visitar meu pai, e naquele dia, como meu pai tava na UTI, sempre invertia as famílias pra cada um ter mais tempo com o seu familiar, que tava ali porque não podia entrar todo mundo junto. E naquele dia eu era pra ser a última da fila, mas aí a médica me chamou. Ela me chamou numa salinha, e a minha tia tinha contado pra ela que eu tinha esse estágio, que eu não queria ir, porque meu pai tava naquela situação e tal, já era janeiro, meu estágio ia começar no dia 8,

701.954
Dandara
e aí eu conseguia atrasar um pouquinho, né, pra começar uns dias depois, tinha explicado a situação e tal, porque eu ainda tava me decidindo se eu iria, e aí a médica teve uma conversa franca comigo, ela falou, seu pai não vai melhorar, se você tiver alguma coisa pra fazer, vai e faça, porque a situação aqui agora é basicamente a gente tá esperando e tal, e aí naquele dia eu fui me despedir do meu pai, né, eu entrei na sala, ninguém mais entrou, eu entrei sozinha, ela me deixou entrar sozinha,

727.671
Dandara
E aí eu me despedi, eu falei assim, olha, pai, eu sei que a situação, meu pai tava assim, vegetativo basicamente, né? E eu meio que tive uma conversa com ele pra liberar o meu pai, eu falei assim, olha, vai, vai tranquilo, sabe, eu sou adulta, eu tô bem, meu irmão tá bem, minha irmã, eu tenho minha irmã que ela é deficiente, né, então ela precisa da ajuda de outras pessoas naquela época que eu tava morando com meu irmão. Eu falei, gente, vai cuidar dela, vai ficar tudo bem e vai, vai tranquilo, não fica aqui, sabe? Tipo, a situação não tá legal pra você.

753.814
Dandara
E aí eu fui fazer, fui pro meu estágio, passou acho que os três dias que eu tava lá e aí meu pai faleceu.

760.965
Dandara
Então, naquele momento eu já falei assim, cara, eu preciso, me voltando para a Austrália, preciso dar um jeito de chegar naquele país porque eu não tenho dinheiro. E aí eu fui pesquisando, perguntando no Facebook como é que as pessoas, que tipo de trabalho as pessoas tinham e tal, e aí a galera começou a falar de ao pé. Aí eu entrei nos grupos de Melbourne, né, e publiquei meu perfil lá, falou, ó, eu sou da Andara, tenho...

783.882
Dandara
X anos, e tô vindo do Brasil, vou chegar em julho e tal, e eu tô precisando de um emprego de Alpere. E aí eu comecei a entrar em contato com as famílias. Eu tinha muito medo de falar inglês, né, porque eu nunca tinha feito curso nem nada, meu inglês foi todo tipo de sério, música e filme. E aí eu conversei com uma família, consegui fechar o emprego de Alpere, e essa foi minha segurança pra chegar aqui. Então a família organizou a minha busca no aeroporto.

806.271
Dandara
Eu já tinha casa, ia morar com eles e tal, então, consegui chegar na Austrália, tinha só 150 dólares, mas eu também tinha outra segurança de já ter um lugar pra morar, enfim. Foi clima.

817.142
mulheresimigrantes
Mas como que você escolheu então pra que cidade que você iria? Porque foi nessa impulsividade da conversa com a amiga da amiga de puta Austrália. Acendeu a luzinha, mas gente, a Austrália é um país muito grande, né? E aí, pra onde eu vou?

838.442
Dandara
Primeiramente foi o clima, na verdade. Eu sou do Rio, do interior do Rio, mas eu nunca fui uma pessoa calorenta, né? Nunca gostei muito de calor. E aí, já, Queensland, eu já eliminei. E aí, depois eu fui vendo, né? Tipo, fico naquela Melbourne, Sydney, Adelaide. E aí, depois eu fui vendo que Melbourne é uma cidade grande. E aí, todo mundo falava que tinha muita cafeteria culinária daqui, era muito forte.

862.261
Dandara
E o meu sonho, né, sempre tive um sonho de abrir uma cafeteria e livraria. E o pessoal também falava muito de cultura, né, que Melbourne tem um monte de galeria, festival e isso e aquilo e tal. Então pra mim foi muito fácil, assim, sabe? Não tive nem dúvida de que seria Melbourne e eu realmente amei essa cidade.

879.203
mulheresimigrantes
Só que você morou em Far North, Queensland, né? Então, como foi isso daí e como que você voltou para Melbourne?

892.312
Dandara
Então, outra história. Quando foi o finalzinho de 2019, ali um ano antes, não um ano, mas meses antes da pandemia, tava no Tinder e eu comecei a gostar com esse carinho e tal.

905.578
Dandara
A gente se encontrou em janeiro, ano seguinte, dia 4 de janeiro, e aí ele tinha me falado que ia passar um ano sabático viajando na América do Sul e na América Central, ele já tinha feito isso uma vez, chegou só de fazer de novo. E a gente teve o nosso primeiro date, durou dois dias, foi maravilhoso. E aí ele foi, a família dele... É.

925.452
mulheresimigrantes
Primeiro dente, dois dias. Amém.

929.053
Dandara
dois dias. Foi muito legal assim, foi uma conexão muito, muito instantânea, né? E aí ele falou assim, olha, preciso ir para a cidade dos meus pais, né, que é uma cidade no interior aqui de Victoria. Despedida, minha família, tá, vou passar um ano viajando. Ele na época, ele trabalhava em...

948.729
Dandara
Esqueci o nome do estado agora. Northern Territory, trabalhava lá. Bem lá, era também uma comunidade de aborígenes, ele era professor lá. E ele tinha tirado esse ano. E aí ele falou assim, vou lá me despedir da minha família, quando eu voltar, se você quiser a gente pode se encontrar mais uma vez, e aí eu vou passar o mesmo ano no Brasil. Beleza, né? Ele foi se despedir da família, me avisou quando eu tinha voltado para Melbourne, acho que eram os dois ou três dias antes do voo dele.

975.864
Dandara
que seria pra Los Angeles, e aí ele me avisou, a gente se encontrou, outro date de dois dias, e aí nesse date de dois dias a gente falou, cara, tipo, a gente tá se gostando e tal, foi um clique bem legal, e aí eu tava com planos, né, de ir pro Brasil no finalzinho daquele ano, lá pro outubro, aproveitar também aí o desconto da minha prima, mais uma vez, porque ela já me avisou que ia, ela ia casar, ia sair da aviação, ela falou, se você quiser viajar, aproveita esse ano, né, falei, beleza, esse ano vai ser ouro como viajar,

1004.497
Dandara
o máximo da minha vida, 2020. E aí ele foi, fiquei. Ele foi, fiquei. Eu falei, não, eu vou pra Tailândia, eu vou pro Japão, vou pra não sei quê. Tinha feito vários planos na minha cabeça. E quando chegou ali, final de 20 de fevereiro, começou a ficar aquele clubeiro meio estranho. Quando chegou março, Covid.

1008.012
mulheresimigrantes
Eu sinto muito o que deu na cara.

1028.524
Dandara
E aí, enfim, não poderia mais viajar, a gente ainda se falava, né? Ele lá, na América Central, em Cuba, isso aqui é a República Dominicana, a gente se falava muito ainda, mas assim, eu já tava meio que sem esperança de encontrar, porque eu já sabia que a situação tava piorando, não ia conseguir chegar no Brasil, né?

1046.493
Dandara
E aí, o Covid chegou lá onde ele estava, ele resolveu voltar pra cá, e aí ele voltou, né, pra Austrália, mas ele foi lá pra cidade dos pais, né, do irmão dele. E ele lá, eu aqui em Melbourne, os dois são cafiatos, se puder se ver, enfim. E a gente foi, começou a conversar, assim, né, mais num tom de relacionamento mesmo. E aí, quando foi ali em junho, ele falou assim, olha, eu fui oferecido um emprego lá em Queensland por seis meses, uma comunidade aborígena, né, numa construção e tal, você quer ir comigo?

1075.06
Dandara
Aí eu lembro até hoje que eu fiz uma chamada de vídeo com todas as minhas amigas mais próximas. Falei, gente, a situação é essa. Eu não sou uma pessoa que eu peço conselho pra nada. E quando eu peço, eu espero que a pessoa me diga uma coisa pra eu fazer o contrário, basicamente. E aí eu chamei todas as minhas amigas numa chamada de vídeo, esperando que elas me falassem, não, você é doida, você conheceu o cara, tipo, saiu com ele duas vezes e tal, não vai, não. Enfim, todo mundo falou, vai, se der certo, você volta.

1100.862
Dandara
E aí foi isso. Decidi ir, fiz as minhas malas. A minha flatmate na época, né, que é basicamente minha irmã aqui na Austrália, a Camila, me deixou no aeroporto com ele. E aí a gente pegou o último avião, que podia sair de Melbourne, né, porque a situação aqui de Covid estava bem terrível, pra Queensland. A gente foi em Cairns, fizemos do... Aí foi o nosso reencontro, foi duas semanas estancados no hotel, né, que a gente teve que fazer a quarentena lá no hotel.

1126.903
Dandara
E foi muito doido, uma pessoa que eu tinha visto duas vezes na minha vida, trancados no hotel por duas semanas. Mas foi muito legal, e depois a gente saiu, foi explorar Cairns, porque o Covid não tinha chegado lá em North Queensland, como tinha chegado aqui em Melbourne. E as pessoas lá, basicamente, estavam vivendo uma vida normal. E lá para a comunidade onde eu fui, foi um choque, porque não existiu o Covid lá.

1150.52
Dandara
Então a história basicamente foi essa, aí eu fui com ele pra essa cidadezinha chamada Coen, lá no fim do mundo, no fim da Austrália basicamente, e foi isso. É...

1162.073
mulheresimigrantes
Bom, eu te apresentei com uma profissão de Integration Aid. Quem já é ouvinte aqui do podcast sabe que é um grande esforço para mim tentar ao máximo traduzir tudo para o português, para não ter nada em inglês.

1180.708
mulheresimigrantes
Eu confesso, Dandara, que eu não consegui achar uma tradução para a sua profissão. Na verdade, eu queria mesmo que você explicasse para a gente o que é que você faz. Gente, quem temos aí? Quem temos aí? Nos apresente.

1197.125
Dandara
Desculpa, participação especial às minhas cães. Tem dois cachorros, dois spoodles. Mas, enfim, sobre Integration Aid, eu não faço ideia de qual seria a tradução, porque eu realmente não sei o que é essa profissão no Brasil, sabe? Eu não sei o que seria mais parecido pra dizer. Tá.

1214.531
mulheresimigrantes
Tudo bem, o que é então? Explica o que você faz e cada um cria o nome que a gente quiser.

1224.974
Dandara
Então, assim, como começou? Lá em Queensland, comecei a trabalhar na mesma escola do meu partner, e aí eu era a teacher aid, que é basicamente aquela pessoa que fica ajudando o professor na sala de aula. Só que como é um lugar muito isolado, não tinha professor suficiente, então eu comecei a dar aula também. Tinha os meus grupos, que eram grupos menores, mas eu comecei a dar aula. Só que o meu começo lá foi basicamente

1249.957
Dandara
Como que eu vou falar? Ajudando com o management de comportamento, né? Eu ajudava as crianças que tinham problemas, assim, do comportamento a se ajustarem pra ficar na escola. E aí, quando eu vim pra cá, essa escola que eu tô agora, ela é basicamente isso, a situação. O governo australiano decidiu que as crianças que têm necessidades especiais, sejam neurodivergentes, né? Ou então alguma...

1278.49
Dandara
como é que fala, mas em inglês é physical impairment, que tem alguma deficiência física mesmo. Os pais não são obrigados mais a matricular essas crianças na escola mainstream, que a gente chama, as escolas comuns.

1283.899
mulheresimigrantes
alguma diferença física, ok.

1295.606
Dandara
Então, muitos pais estão levando essas crianças para as escolas mainstream, não para a escola especial. E aí, as escolas começaram a haver a necessidade de contratar pessoas não só para ajudar os professores na sala de aula, com o que tem que fazer e tal, mas para ajudar essas crianças especificamente que precisam de suporte para poder estar na sala de aula. Então, o meu trabalho hoje em dia é, por exemplo, de manhã, nas manhãs,

1321.425
Dandara
Eu trabalho com uma criança só, ele é neurodivergente, ele tem autismo, ele tem ADHD, que é o, a gente tinha os nomes em português, agora vamos pedir tudo, mas é o TDH, ele tem três ou quatro diagnósticos e ele é uma criança assim, ele é 31, ele é muito, sabe?

1333.968
mulheresimigrantes
e verga.

1344.377
Dandara
E aí, de tarde, é um grupo com cinco crianças, aí tem um que é autista, um que tem TDH, aí tem crianças também que têm outros tipos de neurodivergências que são mais, assim, puxadas pra... Como é que eu vou falar? Atrasos mentais, não gosto de falar esse termo, mas eu não sei em português mais, né, como que a gente fala os termos corretos, mas tem um pouco de defasagem mental, assim, em questão de idade, né? Um pouco como minha irmã.

1374.877
Dandara
Então, são crianças que às vezes têm só dificuldade, por exemplo, para poder se comunicar. Então, basicamente, o meu trabalho é garantir que essas crianças

1386.462
Dandara
absorvam o máximo de conteúdo que elas podem dentro da sala de aula, mas também ajudá-las a se desenvolver socialmente, regular as emoções e tal. Então, é um pouquinho de tudo dentro do ambiente escolar com a criança. Eu não trabalho com professores mais, eu trabalho diretamente com as crianças.

1406.169
mulheresimigrantes
Entendi. Então, a tradução livre, gente, seria tipo uma assessora de integração. E a integração, então, da vida dessa aluna específica ou de grupos de alunas no ambiente escolar. Tá, entendi. Ok.

1416.886
Dandara
É. Isso. É. Completamente diferente. É...

1430.64
mulheresimigrantes
E você se formou em Engenharia Agrícola, como você mencionou na faculdade. Mas então, hoje em dia, essa tradução é completamente diferente. Isso se deu, então, por conta da imigração, no sentido de não conseguir nada na área que eu me formei, ou se deu também por conta da imigração, mas porque

1454.224
Dandara
E aí

1457.858
mulheresimigrantes
Descobri essa nova profissão e me encontrei e não me vejo mais fazendo outra coisa. Ou tem uma terceira que é o que tinha no momento, é o que eu tenho experiência na Australia, é o que paga as contas e beleza.

1474.002
Dandara
Então, na verdade, foi o que aconteceu. Eu tecnicamente não escolhi, né? Eu, até ali o Covid, eu trabalhava como Nanny e era uma coisa que eu adorava porque as famílias que eu tava já tava trabalhando com eles há um tempo já, né?

1488.865
Dandara
E, assim, eu recebia muito bem, eu só trabalhava, na verdade, três dias e meio na semana. Fazia questão de não trabalhar final de semana nem de noite. Eu conseguia pagar minhas coisas muito... Eu vivia muito bem, sabe? Trabalhando de NAN, eu ganhava, assim, era uma remuneração muito boa. Só que aí, eu já estava começando a me planejar para poder pegar o meu diploma, né? Eu ia para o Brasil naquele títico ano.

1513.063
Dandara
pegar uma diploma, começar o Skills Assessments aqui para poder dar uma diploma como engenheira. Porque, na verdade, quando você faz Skills Assessments, eles que definem basicamente qual vai ser o teu título aqui na Austrália. E como eu fiz muita coisa na área de máquinas agrícolas, eu não seria nenhuma engenheira agrícola, seria alguma coisa mais técnica de máquinas. E é uma coisa que eu amava, eu estava muito feliz fazendo vários planos já.

1538.131
Dandara
Só que aí tudo aconteceu, o Covid aconteceu, fui morar lá em Queensland e lá eu comecei a trabalhar, como eu falei nessa parte da educação. E aí eu comecei a gostar muito, né? E aí eu trabalhei nisso durante três anos e meio que eu fiquei lá.

1554.138
Dandara
E quando eu voltei pra Bélbor, meu pensamento era vou conseguir um emprego nessa área, porque é o que eu mais tenho experiência no momento. E eu queria, assim, naquele momento, né, como eu já tava ali naquela comunidade que era uma comunidade aborígena, você vê um lado social da Austrália que você não vê em cidade grande, né, uma coisa completamente diferente, eu já tinha me apaixonado mais, mais pelo lado social, né, então eu queria trabalhar alguma coisa um pouco mais envolvida no social da Austrália, não necessariamente com educação, talvez até na educação,

1582.722
Dandara
mas alguma coisa, por exemplo, de repente dando mais algum outro tipo de suporte para essas crianças que eu mencionei, né? E aí eu comecei a conseguir esse emprego nessa escola, foi isso, foi, eu voltei para Melbourne em dezembro, aí eu comecei a procurar emprego em janeiro, finalzinho de janeiro eu consegui esse emprego, mas não, não é, assim, a minha paixão trabalhar com isso. Eu realmente pretendo começar a ver outra coisa e tal, eu era para ter começado a estudar,

1611.226
Dandara
em fevereiro, mas eu acabei tendo que adiar um pouquinho. Enfim, pretendo sim trabalhar com outra coisa. Eu me encontrei tecnicamente aqui, mas não é nesse ramo ainda. É no ramo, mas na verdade não é nessa especificidade do ramo. Então foi uma coisa que meio que aconteceu, eu não escolhi. Eu ainda amo a engenharia agrícola.

1633.2
Dandara
Sei lá, se eu tivesse no Brasil nunca teria nem tentado outra coisa, mas aqui na Austrália a gente também vê muito, às vezes, que não tem a necessidade de a gente trabalhar com uma coisa tão específica para viver bem, igual no Brasil. Uma das razões pelas quais eu fiz engenharia não foi porque, ah, esse engenharia aqui vai ser legal. Não, foi porque eu acho que isso vai me dar um autocam legal, vai me dar um feedback legal lá no futuro.

1656.118
Dandara
E aqui, sim, ainda é uma engenharia, essa engenharia específica, mas eu não preciso disso. Gostaria de voltar para a área? Gostaria. Me esforce para isso? Não, porque eu não vejo necessidade também. Aconteceu. Mas hoje, realmente, eu tenho muito mais paixão, e eu acho que até vocação. Meu teórapeuta, inclusive, foi quem me iluminou para essa coisa social. Então, acho que se for buscar uma coisa nova, eu acho que vou tentar ir para essa área.

1672.568
mulheresimigrantes
Uhum.

1686.22
mulheresimigrantes
E o que mais atrai nessa coisa de trabalhar na área social da coisa? Então, como você comentou, está inserida mais em comunidades aborígenes ou com pessoas que, de certa forma, são excluídas socialmente. Então, pessoas com deficiência ou neurodivergentes. O que te chama para ser, de certa forma, uma agente da área social?

1706.084
Dandara
Pelo menos.

1715.418
Dandara
Primeiramente, acho que é o fator de identificação, né? Geralmente a gente tende a gostar daquilo com que a gente se identifica, então, por exemplo, quando eu estava lá em Cohen, eu vi muito da minha própria realidade ali, né? Das minhas dificuldades, das dificuldades da minha mãe, coisas, por exemplo, que eu precisava na escola, eu precisava ir na escola lá, então,

1739.65
Dandara
a minha realidade era muito mais próxima das crianças, por exemplo, do que dos outros professores que estavam lá, que a maioria eram australianos brancos. E aí também, quando eu vou para essa parte, assim, por exemplo, das disabilities, né, eu tenho um tio que mora comigo a vida inteira, que tem disability, neurodivergente também,

1758.951
Dandara
Eu tenho a minha irmã, que é neurodivergente, também tem Física Olipaiâmica, então, pra mim foi um pouco assim dessa questão ali da identificação, primeiramente, porque eu vi a minha realidade, mas hoje em dia eu já me enxergo não só como alguém que faz parte daquilo, né? Eu tenho potencial pra poder fazer diferente, né? E, segundo, foi, acho que um choque pra mim, saber que dentro da Austrália existe o que eu vivi lá, né? Em Queensland, porque

1788.507
Dandara
Cara, é uma coisa muito difícil, é uma coisa assim muito... Eu não sei nem com o que comparar, mas é uma outra Austrália, sabe? É uma Austrália que ninguém vê, é uma Austrália que muita gente sabe que existe, mas muita gente não dá importância, não entende, sabe? As pessoas, o primeiro lugar que elas vão é o lugar da exclusão. E aí quando você viaja, por exemplo, para outras cidades, você vai para Brisbane, Gold Coast, Cairns, que é a mais próxima de onde eu morava,

1813.729
Dandara
você vê que essas pessoas realmente são as córneas da sociedade, sabe? São sempre olhadas de um jeito esquisito, são sempre maltratados. E aí você vê que, por exemplo, por conta que a gente sabe que a gente mora na Austrália, de tudo que aconteceu no passado deles, dos traumas, é que são geracionais, mas as coisas que eles vivenciam hoje em dia, a vida deles é difícil. Então, tem criança na escola que infelizmente a gente olha e fala, putz, essa criança tem grande chance de ser presa por 15 anos.

1843.729
Dandara
essa criança vai sair da escola e vai direto se envolver com drogas ou então, alcoolismo, você vê que os níveis assim são muito grandes, né? Obesidade, alcoolismo, sei lá,

1859.833
Dandara
addiction a drogas e outras diversas substâncias, violência entre familiares, principalmente violência contra a mulher, porque a mulher ainda vive muito subjugada dentro dessa cultura. Então, assim, são muitas coisas dentro daquilo ali que eu vivi durante os três anos e meio que me abriram os olhos para ver que, sim, nesse país existe desigualdade social,

1886.613
Dandara
num nível que, assim, em termos até um pouco mais gritantes do que no Brasil, porque no Brasil, pelo menos as pessoas sabem que existe, sabem o que está em maioria, tipo, em vários lugares, e existem muitas pessoas dispostas a entrar naquilo ali de alguma maneira, a tentar ajudar as pessoas a mudarem essa realidade. Aqui não. Aqui as pessoas que vivem dentro desse mundo desigualdade social, elas são varridas por um canto, né? Então, realmente precisa de pessoas interessadas para poder

1916.613
Dandara
sei lá, mudar isso de alguma maneira. E aí eu falei, putz, aqui eu não preciso só olhar pra isso e ver o meu passado. Dá pra eu tentar fazer diferente, principalmente pelas crianças, né? Tipo, eu gosto muito de criança. Desde que eu cheguei na cela eu só trabalhei com crianças. Então, é muito triste realmente você ver que a maioria das crianças não tem chance.

1938.456
mulheresimigrantes
E aí você falou que você, no comecinho, que você deveria escrever um livro sobre sua adolescência, mas na verdade você já publicou um. Eu confesso que nas minhas buscas eu não consegui achar por nada esse bendito. Então eu queria que você contasse duas coisas pra gente. Um, conta um pouco sobre esse livro já publicado, mas também uma história marcante que teria nesse suposto livro da adolescência.

1947.756
Dandara
Ok. Uhum.

1966.886
Dandara
Meu Deus, tantas histórias. Então, o meu livro, eu publiquei ele quando eu estava no comecinho da minha faculdade. Foi 2011, se não me engano, né? E eu sempre gostei muito de ler, de assistir filmes. Eu tenho um ascendente peixe, sou sagitariana, então tem muita coisa assim na minha imaginação que flui. Então, escrevi aquele livro, 360 páginas, eu acho, em um mês.

1994.838
Dandara
E aí eu publiquei e foi bem legal a sensação de eu pegar o meu livro e dar pra minha família, alguns amigos lerem e tal, e eu fiz parceria com blogs na época. E todo mundo avaliando super bem, porque eu sempre escrevi muito. E era um livro de ficção, era uma história de uma menina que ela conseguia mudar o futuro, basicamente. Não o futuro

2018.456
Dandara
daqui a 100 anos, mas no futuro imediato, algumas coisas que aconteciam ali ao redor dela. Só que toda vez que ela mudava alguma coisa, isso vinha como uma consequência para ela ou para alguém que era ao redor dela, que ela amava e tal. Então, assim, eu gostei muito do processo de escrita, eu escrevo muito, eu tenho vários livros, assim, já que eu finalizei, eu estou no processo de escrita agora, estou sempre escrevendo. Mas uma coisa que eu ouvi depois de uns anos que eu publiquei

2044.94
Dandara
é que dificilmente um autor gosta da primeira obra. E passados alguns meses eu odiei o meu livro, odiei, odiei, odiei. Eu falei, gente, eu não estava com a cabeça, eu deveria ter feito esse capítulo desse jeito e tal. Eu odiei. E aí...

2060.424
Dandara
Na época, eu estava em contato com algumas outras editoras, porque eu estava recebendo vários elogios, e eu queria republicá-lo com uma capagem melhor, porque o livro veio cheio de erro, enfim, porque era uma editora muito pequena que eu peguei. E aí, algumas editoras me deram uma resposta positiva, mas falaram assim, você tem que mudar isso na história, você tem que mudar o background da protagonista, você tem que mudar o final. Eu falei, não quero fazer mudanças trágicas, a história que eu escrevi foi essa.

2087.534
Dandara
E aí, naquela época, eu pedi para a minha editora que eu estava, né, tirar o livro de circulação, porque eu não queria, eu queria dar uma refigurada no meu livro. E aí, acabou que entrei numa espiral de fazer mil coisas na faculdade, e depois, né, terminei a faculdade de fazer estágio em professoral, e nunca mais voltei naquilo.

2106.954
Dandara
Mas sempre fui escrevendo e tal. E eu tenho uma história na minha cabeça que está há dez anos. Já escrevi essa história em livros completos umas cinco vezes. Nunca terminei porque nunca está bom o suficiente. Outra coisa que eu trato na terapia é essa questão do perfeccionismo. Mas aí foi isso. Eu pedi para tirar o livro de circulação, mas eu também não publiquei ele porque geralmente eu me apresento como Dandara Reis. Meu nome e o meu último nome, que é o nome do meu pai.

2131.698
Dandara
Mas o livro eu coloquei como Dandara Alves Reis. Eu coloquei da minha mãe e do meu pai também. Então, se você pesquisar, talvez você ache no Amephies de outono. E foi isso. Eu pedi para tirar de circulação e nunca mais toquei nele. Talvez um dia. Eu ainda gosto muito de fantasia, mas acho que hoje, se eu fosse me tornar escritora, eu seria mais uma escritora de um romance um pouco dramático, puxado para o contexto histórico ou de terror.

2158.677
Dandara
E sobre histórias da minha infância, cara, é engraçado porque toda vez que eu converso com os meus amigos sobre isso, que vivenciaram essas histórias comigo, a gente sempre fala, a gente conta essa história para as pessoas e as pessoas acham que é mentira. Mas é... Eu não sei qual é a história, mas como eu mencionei terror, gosto muito do gênero de terror,

2181.903
Dandara
Teve uma vez que eu tinha feito 15 anos e minha mãe deixou eu fazer minha primeira viagem sozinha. Esses meus amigos que eu menciono são todos meus vizinhos ali da minha rua. E aí a gente foi pra uma praia assim, que era uma praia meio fuleira assim, né? Ali de Angra, né? Mambucaba. A gente alugou a nossa casa e tal e fomos. E a gente com um amigo nosso, que na época ele... Eu vou contar então de piada, né? Porque hoje em dia é piada, mas foi um terror lá na época.

2210.52
Dandara
que ele ia no Condomblé, na época, né? E aí, a gente tava planejando essa viagem e tal, e ele chegou, perguntou assim, pra gente, se a gente achava que ele deveria ir, porque a mãe de santo dele tinha falado pra ele não viajar. Aí a gente, na época, não tinha conhecimento de nada, né? Vai, larga de ser bobo, não sei quê e tal. Ele decidiu não ir.

2231.288
Dandara
Aí a gente foi, ele não foi, aí a gente chega no dia 28 e chegou um dia ou dois dias antes da virada do ano, a gente resolveu limpar a casa para receber o ano e tal, não sei o quê. Éramos... vou tentar não falar os nomes, né, porque...

2250.367
Dandara
sete pessoas já, e ele chegou pra ser oitavo, né? E eu lembro direitinho, a gente limpando a casa assim, e aí ele chegou assim, quietinho, tem lugar pra mais um aí, e a gente, ah, você vê, eles aqui, super felizes, né? E, cara, no momento que ele pisou ali, várias coisas começaram a acontecer, tipo, ele quase morreu afogado, várias doideiras, e aí, nesse dia, foi virado assim, foi nem virado no dia 31, foi do dia

2252.176
mulheresimigrantes
Tá.

2282.512
Dandara
Chewie! Foi a virada do dia primeiro pro dia dois. A gente começou a beber e assim, eu tinha 15 anos, eu não tinha o hábito, e a gente tava tomando catuaba, foi a primeira vez que eu tomei catuaba na vida, e assim, um copinho... Quiet! Um copinho eu já tava doida, né? Enfim, éramos todos super jovens, assim, acho que tinha duas pessoas só, três que era a maior idade, o resto era tudo 15, 16.

2292.958
mulheresimigrantes
Nossa, isso é muito...

2307.705
Dandara
E aí a gente começou a beber, e aí ele começou a beber também, só que ele subiu na mesa, começou a dançar meio assim, de um jeito meio sedutor e tal.

2318.933
Dandara
E ele começou a falar estranho. E aí ele começou a falar que não era ele. Ele começou a falar com uma voz, cara, parece... É só ouvendo, sabe? Só ouvendo, assim mesmo. Eu nunca tinha visto uma pessoa, ela receber uma entidade, incorporar igual naquele dia. E foi uma coisa muito doida. E eu acho que eu só não fiquei com medo, porque eu estava alcoholizada. Mas foi uma coisa muito doida. E uma das pessoas que tinha com a gente, né, o irmão do namorado de uma amiga minha,

2347.807
Dandara
Ele ia também com o Noble, naquela época ele era até, eu não sei como chama de onde você veio de São Paulo, mas bate bola com as pessoas, fantasia assim.

2357.995
Dandara
ali naquela época da quaresma e tal. E aí a gente foi chamar ele pra poder ajudar a gente, né? Enfim, ele chegou, aí ele fez as coisas lá que ele sabia e tal, e falou pra essa entidade pra, enfim, pra poder deixar o meu amigo. Naquela época foi uma coisa muito doida, assim, e aí no dia seguinte a gente acordou, todo mundo

2382.039
Dandara
assim, quieto, sem saber o que fazer, sem saber o que falar, com medo também. E eu lembro que nesse lugar que a gente estava, nessa casa, era tipo um cortiçozinho, e a nossa casa era a última. E no começo desse cortiço tinha um centro, eu não sei de qual vertente era, mas era um centro espírita.

2402.722
Dandara
E aí, tá, tu teve fechado por todos esses dias. No dia seguinte que tudo isso aconteceu, o centro abriu e eu e minha amiga passando em frente, cara, nunca vou esquecer das cenas curtinas, assim, azuis, marinhos, ventando de dentro pra fora. Eu juro pela alma dos meus pais que isso aconteceu. Cara, foi uma coisa muito doida, então...

2419.804
Dandara
Esse amigo foi embora, não ficou lá, e aí ficou um clima muito pesado entre a gente, todo mundo com medo e tal. E aí a gente foi embora e eu contando pra minha mãe, minha mãe naquela época era donbanda, minha mãe me deu vários bães de descarrego. Passado um tempo a gente começou a fazer piada disso, né, porque, enfim, criança, adolescente. Mas foi bem tenso assim, a história foi uma coisa bem de terror mesmo.

2444.821
mulheresimigrantes
E de onde surgiu, falando dessa parte do terror e horror e afins, de onde surgiu a sua possível... Eu não sei se eu vou usar a palavra correta, mas é o que me aparenta. Fascinação por cemitérios. Gente, por que eu estou falando isso? Porque eu dei aquela estoqueada básica que eu dou nas nossas convidadas e a quantidade de fotos

2451.886
Dandara
Uhu.

2472.193
mulheresimigrantes
que Dandara tem no seu Instagram pelas viagens no mundo que ela fez e fez uma grande viagem pelos Estados Unidos. E tem inúmeros cemitérios ali e contando história.

2485.879
Dandara
Uhum.

2488.268
mulheresimigrantes
E eu sou. Eu também adoro. Eu não posso falar nada. Tô zero julgando. Eu acho lindo. Eu passo do lado de cemitério e falo, gente, mas olha que cemitério... Eu morava em Brisbane até ano passado. E relativamente ali, quatro quilômetros da minha casa, tinha um.

2513.677
mulheresimigrantes
Eu gostava de correr por lá, de manhãzinha cedo, porque a vista do nascer do sol daquele cemitério era linda. Ou se você já foi para Sydney. E aquele cemitério que tem na caminhada de Coody para Bondi, que é tipo, gente, eu vou até postar foto. Quando esse episódio for para o ar, eu posto foto nos stories para vocês verem.

2524.787
Dandara
Uhum.

2539.77
mulheresimigrantes
É uma visão do mar, meio que num penhasco, você caminha... Gente, é coisa mais linda, não tem que ter medo. Cemitério em Buenos Aires, coisa mais linda também. Em Paris tem uns lindos. Em São Paulo, gente, tem Cemitério Bonito também.

2558.302
mulheresimigrantes
Todo mundo vai de algum jeito parar lá, ou a maioria vai. Quem não quiser, a não ser que você queira ser cremado e ficar num potinho na casa de alguém. Mas enfim, é o nosso fim e o povo tem medo disso. Mas eu queria entender então de você, de onde surgiu essa fascinação e o que faz seu olho brilhar dentro do cemitério?

2580.077
Dandara
Cara, então pra mim, de onde surgiu? Filme, série, né? Eu sempre fui muito viciada, então, principalmente que a gente consumia muita coisa nos Estados Unidos, né? A gente, hoje em dia, em termos de cultura, de televisão e tal, a gente vai...

2594.701
Dandara
para outras culturas, a gente assiste coisas da Coreia, a gente assiste coisas da Inglaterra, mas nos Estados Unidos sempre, ainda mais aquelas séries de adolescentes que eu assistia, One True Hill, minha favorita, sempre tem aquele momento que o adolescente vai sentar no cemitério para conversar com o pai ou com a mãe que já morreu ou para escrever no diário, qualquer coisa assim.

2612.363
Dandara
E sempre foram cemitérios, assim, maravilhosos, né? Porque, indo, né, gente, depois que você começa a se interessar e tal, eu sou muito assim, né? Eu me interesso por uma coisa boa, pesquisando e aprendendo sobre aquilo, que eles chamam de graveyard, né? Que não é só a pessoa ali embaixo da teta, hein? Aquelas esculturas bonitas, né? Para marcar ali onde tal pessoa foi enterrada, enfim, a coisa muito bonita. E eu comecei a ver beleza naquilo, falei, cara, eu também sentaria ali para escrever no meu diário.

2641.698
Dandara
Eu também sentaria ali pra, sei lá, ouvir música, passar o tempo pra pensar e tal. E aí, eu comecei a assistir... Na época, acho que um pouco depois, tinha um onto you que ia-se muito algumas vezes no cemitério em alguns episódios. E eu comecei a assistir também The Vampire Dies na época. E no começo da primeira temporada, a Helena, que era a principal, ela ia muito no cemitério.

2664.974
Dandara
E eram cemitérios maravilhosos, e depois teve o spin-off também, que era o The Originals, e aí tinha cena no cemitério o tempo inteiro, porque tinha muita bruxa na série, e muita coisa aconteceu no cemitério. E eram cemitérios maravilhosos, eu falei, gente, de onde são esses cemitérios? Eu pensei em pesquisar e tal. E aí quando meu partner e eu, que a história do Carinha Maquil, dois dias de date, hoje é meu partner,

2690.127
Dandara
A gente decidiu que ia para os Estados Unidos, né? Eu sempre amei New Orleans, né? Eu sempre fui muito apaixonada por New Orleans. É uma coisa assim... 

16.169
Dandara
pelos cemitérios. Eu sempre gostei também. Eu sempre fui apaixonada pela cidade de New Orleans, nos Estados Unidos. É uma paixão que não tinha nem explicação. Era coisa de eu ver um filme e numa cena eu falei, putz, esse filme foi gravado lá. E depois eu ia olhar e foi mesmo. Era uma coisa surreal. Deu chorar quando aparecia nos filmes. Eu lembro que eu estava numa livraria

44.189
Dandara
e eu peguei um livro, né, que chamava aquele... onde mora... onde mora... Esqueci o nome em português, mas o inglês é Where the Crowd Had Seen, que é um livro maravilhoso, tem filme também que é bem legal, e aí eu tava no Kmart, e aí eu peguei o livro e abri, assim, era um livro falando... era a página que falava sobre New Orleans, a única página do livro que tem 400 páginas que falavam sobre New Orleans, foi, putz, vou comprar.

68.49
Dandara
Enfim, aí fui ver o filme e falei, putz, acho que esse filme foi gravado lá. E foi mesmo gravado, enfim, várias coisas. E aí, nessa paixão para o New Orleans, eu entrava no Google Maps para olhar a cidade, pesquisar várias coisas, e lá tem muitos cemitérios, cemitérios famosos, né? Tipo, eu sempre gostei de terror e aí...

87.927
Dandara
A Annie Rice, a autora, ela é de lá, então algumas das histórias dela são, né, na cidade. E aí, quando eu e meu partner decidimos fazer essa viagem para os Estados Unidos, obviamente, né, foi de estilo número um, New Orleans. E aí a gente foi no finalzinho do ano, eu falei, quero passar meu aniversário lá e tal.

106.032
Dandara
E aí foi a caça aos cemitérios, né? Eu queria tentar ir no máximo de cemitérios que eu conseguisse, principalmente desses que eu já tinha pesquisado e tal, que tinha história, que tinham tudo de fantasma e queria muito ir.

123.387
Dandara
E a gente conseguiu em vários, eu lembro que teve uma hora que o meu partner falou, cara, você não cansa de ir de cemitério, né? Eu falei, eu fui em todos que eu consegui. E a gente foi até uns pequenininhos lá em Nova York, no meio do nada, no meio da cidade, tem um cemitério, sei lá, tipo, 20 metros quadrados, sabe? Mas a gente foi em vários. E cara, eu acho muito interessante, porque eu acho que essa coisa de...

143.592
Dandara
de provocar medo nas pessoas, ele cria um clima no cemitério que só existe na nossa cabeça, mas eu acho que dá um charme para o local, sabe? Porque, por exemplo, teve um cemitério que a gente foi, o Bonaventure, que foi em Savannah, que é um dos cemitérios mais bonitos que eu já vi.

161.329
Dandara
na minha vida. A gente foi lá durante o dia, um dia ensolarado. Mas mesmo assim, você consegue sentir na atmosfera aquela coisa do meio... Como eu vou falar? Do mistério, sabe? Eu acho muito legal. Então, você vê várias... Porque, obviamente, são muitas personalidades também que acabam sendo enterradas nos lugares. Então, você vê tumbas de várias pessoas, graves de vários artistas. Engraçado, quando a gente estava em New Orleans, em um deles,

190.299
Dandara
O primeiro que a gente visitou de lá tem uma pirâmide branca, de mármore, linda, no meio do cemitério. É o túmulo do Nicolas Cage. Ele tá vivo? Tá vivo, mas ele já comprou um túmulo lá. Então, é uma coisa assim, muito doida, né? E tem alguns cemitérios que você pode comprar antes desse bem, antes de morrer. E o dele é muito, muito doido. É uma pirâmide, assim mesmo, no meio do cemitério.

215.481
Dandara
E ele quer ser enterrado lá, enfim. E aí esse amor vem disso. Eu gosto muito de histórias de terror, gosto muito de contas de terror, filmes de terror. Mas vem muito dessa coisa de ver o quanto isso era um local de busca.

232.607
Dandara
adolescentes americanos, dos filmes que eu amava, das séries que eu amava, na época que eu também era adolescente. E aí o interesse começou ali. E aí a minha curiosidade, ela avancou o interesse, porque você começa a pesquisar, começa a ler, e aí você já vai criando um dingo ali seu sobre aquilo.

248.336
mulheresimigrantes
Mas é muito interessante escutar você falar disso, que me fez lembrar, gente, mas assim, eu não consigo nem lembrar quantos anos atrás, quando eu fazia curso de turismo aqui na Austrália, quando eu morava em Sydney, e aí uma das minhas matérias era sobre tipo turismo internacional.

268.609
mulheresimigrantes
e a gente tava num termo que a gente tava aprendendo sobre os Estados Unidos, e aí eu tinha que, sei lá, falar, pesquisar de alguma coisa, de alguma cidade, né, e meio que montar um roteiro.

283.882
mulheresimigrantes
E aí eu fiz um roteiro da capital dos Estados Unidos, então, de Washington, D.C., mas fazendo também, incluindo o cemitério nacional de Arlington nesse roteiro. Enquanto escutei você falar, eu lembrei disso, gente. Que bom encontrar uma outra entusiasta com cemitério.

304.121
Dandara
É muito legal. São locais muito interessantes, né? Se a gente vai sem o medo, a gente absorve muito. São locais tranquilos também, né? Porque é um lugar que muita gente gosta de visitar, às vezes. Então, eu super entendo, hoje em dia, depois de ter visitado tantos, essa coisa da cultura pop de falar que é um lugar de paz, enfim. E é mesmo.

333.054
mulheresimigrantes
Eu tenho a curiosidade de ficar, às vezes, sei lá, criando histórias. E a Austrália, por ser um país tão multicultural, você consegue vendo que às vezes tem

348.933
mulheresimigrantes
ruas, vamos dizer, que são para determinadas nacionalidades, porque você vê vários nomes parecidos. A rua que tem muitos vietnamitas enterrados, aqui tem grego, você começa a prestar atenção nas datas.

357.398
Dandara
Uhum.

368.387
mulheresimigrantes
E eu estava no Nepal em novembro, eu fiz a... Que em português escalada fica estranho, mas enfim, fiz a caminhada até o campo base. E uma parte da caminhada a gente passa, de certa forma, não necessariamente um cemitério em si, mas é mais como se fosse...

393.882
mulheresimigrantes
mais pra um museu de homenagem a muitas pessoas que morreram fazendo a escalada até o topo. Só que aí o que me deixa mais interessada, o que torna isso pra mim mais interessante é que tenha um pouquinho da causa mortes.

413.08
mulheresimigrantes
quando aconteceu, se aconteceu na subida ou na descida. E aí de onde aquela pessoa é, que aí você fica com um pouquinho mais daquela história, que é isso aqui pra mim que chama mais ainda atenção, tentar saber da história de vida, porque gente, ser humano são interessante, por mais que tenha hora que eu detesto pessoas, eu gosto de escutar a história de

418.964
Dandara
Caraca, que legal.

438.095
Dandara
É... É, eu amo ler, assim, sobre essas coisas, assim. Tipo, eu lembro que teve uma época na faculdade que os meus amigos me zoavam, né, que eu sentava e eleia o Wikipedia, assim, páginas e páginas e páginas sobre coisas aleatórias. Tipo, num dia que eu falava, ah, eu vou ler, sei lá,

453.37
Dandara
não sei, tipo, Segunda Guerra Mundial, e lia a coisa inteira sobre a Segunda Guerra Mundial. Ah, eu vou ler sobre, não sei, enfim, assuntos aleatórios, assim, lia muito, né? Você falou dessa questão de tá descrita ali como as pessoas morreram, né? Eu lembrei quando eu fui em Salem, a Salém, né, de Massachusetts, onde teve a caça das bruxas e tal, eu fui no cemitério onde as bruxas estavam enterradas,

482.5
Dandara
E várias coisas me surpreenderam. Primeiramente, quando a gente fala em caça das bruxas, parece que foram, sim, milhares de pessoas que morreram. Se você olhar ao redor do mundo, de fato foram. Porque quando a gente foi lá no museu, realmente, fala-se que a caça das bruxas, ela aconteceu no mundo inteiro. Primeiramente, começa na Europa e tal. E aí, lá tem, nas lápites das pessoas, que foram poucas, acho que foram 13 pessoas ali, não sei lá no caso.

509.684
Dandara
que morreram acusadas de bruxaria, e na lápide dessas pessoas tem escrito a forma como elas morreram. Eu tirei fotos, né? E aí tem, fulano morreu por esmagamento, fulano morreu por enforcamento,

524.684
Dandara
morreu com aquelas coisas de apetrechos pré-históricos de tortura. É bem interessante, porque a cidade toda de Salendes tem esse clima de cemitério, e quando você vai lá,

544.087
Dandara
pra você ver essa história das bruxas e tal, é outra coisa assim, é uma coisa bem acentuada, né? Então foi uma visita bem legal também. E curioso saber, porque eu achava que todo mundo tinha sido enforcado, né? Mas não, tipo, várias mortes diferentes. Não se diz o que que levava as pessoas a serem mortes de X ou Y uma maneira, mas é bem interessante também isso.

570.879
mulheresimigrantes
Falando um pouco sobre essas bruxas e o quanto elas passaram por inúmeras adversidades e dificuldades em suas vidas, quais são as suas dificuldades em ser uma mulher imigrante na Austrália?

588.763
Dandara
Ai, cara, são muitas e não são também, né? Porque eu tenho, por exemplo, noção de que... Hoje em dia eu sou residente, né, australiana, mas eu tenho noção de que não importa o quanto meu status mude aqui, eu sempre vou ser uma emigrante, porque o meu inglês sempre vai ter um sotaque, a minha pele sempre vai ser escura. Eu não me pareço com os australianos, nem os originais, nem os aboridinos, nem os...

618.434
Dandara
Enfim, mas eu acho que o primeiro impacto, na verdade, pra gente sempre vai ser o cultural, né? Porque o cultural, ele vem naquela questão de, primeiro, você aceitar que você tá num país que

632.961
Dandara
sendo multicultural, não necessariamente vai representar a sua cultura. Eu, por exemplo, aqui na Austrália, eu vejo, por exemplo, quando tem um festival latino, que é onde você espera ver o Brasil representado, eu sempre fico chocada que ninguém considera gente latina. Como assim? Raramente eu vou num festival latino que tem coisas do Brasil e quando tem, por exemplo, barraquinha de comida brasileira, mas não tem nem a bandeira do Brasil ali com as outras bandeiras dos outros países.

663.217
mulheresimigrantes
Mas nem o próprio brasileiro se considera latino.

666.951
Dandara
Então, eu acho que, enfim, é aquela coisa, eu acho que latino, se você olha ali que tem a palavra, é o que vem do latim, né? E tecnicamente a gente vem. Mas eu acho que tem essa coisa do Brasil não falar espanhol, né? Não ser considerado latino. Mas é, gente, a gente é latino. Somos parte da América Latina, né? O Brasil não está excluído.

689.872
Dandara
Enfim, essa questão cultural para mim sempre vai ser um... Não uma barreira, mas uma coisa para parar a pensar, analisar, sentir falta.

702.512
Dandara
Preconceito e racismo, eu vou colocar assim no mesmo copo, porque aqui na Austrália é difícil, você vê o racismo e o preconceito. O preconceito, primeiramente, ele é direcionado a vários grupos específicos, não é aquela coisa para todo mundo.

722.346
Dandara
Tanto que você mencionou que a gente vê bairros, né, que são bairros de uma nacionalidade específica, é uma das razões. Eu sofri algumas situações aqui de racismo, né, coisa de, por exemplo, ser seguida na farmácia, que na hora eu não falei nada, mas depois ficou me ruminando aquilo de, putz, deveria ter falado alguma coisa, não precisa aceitar isso e tal. E também aquela coisa de

748.797
Dandara
Tudo isso, preconceito, racismo, ser uma mulher, ser mulher negra. A gente encontra várias portas pra gente que nunca vão se abrir. Por exemplo, tem empresas que não contratam pessoas que, mesmo que você seja influente em inglês, o seu inglês não é a tua primeira língua, porque você tem um sotaque demais. A aparência também fecha portas.

769.872
Dandara
a cor da sua pele, fecha portas. Isso para mim sempre vai ser difícil, porque no Brasil, por mais que o Brasil também seja um país que o racismo é muito presente, aqui na Austrália a gente se sente mais excluído porque a gente vê menos pessoas como a gente.

785.503
Dandara
Eu, por exemplo, eu tento educar muito meu partner em relação a isso, porque ele é australiano branco, então eu tento explicar pra ele porque eu não me sinto à vontade, por exemplo, se eu entro numa loja com sacola de outra loja, eu sempre passo sacola pra ele, eu sempre vou caminhando automaticamente pra mostrar o meu recibo na hora de sair, tem lojas que eu não me sinto à vontade de entrar, tipo ali na Collins, né?

807.398
Dandara
aqui na Collins Street em Melbourne. Ali na city tem... São as lojas de grife, né? E é onde eu faço a filioterapia também, e às vezes eu passo ficando olhando e assim, ah, que legal, mas não me sinto a vontade de entrar, sabe? Porque você vê que já tem aquela barreira invisível ali por conta da sua nacionalidade, por conta do seu tom de pele, por conta da sua aparência, no geral. Então, essa questão pra mim de ser uma mulher negra

836.578
Dandara
adicionando aí o imigrante, para mim são três coisas que sempre me deixam muito super aware. Estou sempre muito ligada em tudo que está acontecendo ao redor. Uma coisa também que me assusta muito aqui na Austrália é o número, esses últimos dias tem-se falado muito sobre isso, como é crescente o número de pessoas que sofrem violência, mulheres que sofrem violências. Feminicídio aqui é uma coisa que me deixa muito assustada, tipo, eu já fui na época que eu era estudante, por exemplo,

865.657
Dandara
Tinha um cara que ele... Como que é a palavra em português? Harassed. Ele...

872.756
mulheresimigrantes
Assalva isso.

876.086
Dandara
assidiava meninas em escola, então ele já me parou uma vez e você fica com medo porque você não sabe o que fazer e aquela hora que trava você não consegue falar a língua, você não consegue sair da situação, então... Tem muitas coisas que às vezes a gente se coloca em situações aqui na Austrália porque a gente é de fora e a gente não sabe como se portar. Realmente, quando esse cara chegou para falar comigo, por exemplo,

901.22
Dandara
virou uma chavinha ali, eu não conseguia falar inglês, sabe? Porque a língua... Acho que quando você tá com medo, né? Você volta para os primórdios de quem você é. E pra mim é falar português, né? Não conseguia, então... Acho que tem muitas barreiras aqui que eu nunca vou superar, mas não porque eu...

918.08
Dandara
não consigo me livrar delas, mas é porque são coisas que nunca vão deixar de existir. Nunca vou deixar de ser mulher, nunca vou deixar de ser negra, nunca vou deixar de ser brasileira, por mais que eu tenha minha cidadania aqui, sempre vai ter aquele grupinho que vai me olhar como outra coisa que não uma pessoa australiana.

936.425
Dandara
E, sinceramente, eu acho que não importa, eu estava conversando com meu partner sobre isso ontem, ou anteontem, eu falei, eu acho que a gente está falando sobre essa questão de ter várias nacionalidades, né, eu acho que pode passar dez anos que eu vou ter menos nacionalidade australiana, eu sempre, pra mim, sempre brasileira, assim, né, ser uma cidadã australiana vai ser uma coisa que, de repente,

957.483
Dandara
vai me proporcionar algumas facilidades aqui, né? Eu vou poder, por exemplo, sei lá, participar mais da vida política e tal, do país que eu vou poder votar, eu vou ter o passaporte, que vai ser mais fácil quando eu voltar pra Austrália depois de uma viagem internacional e tal. Mas, pra mim, eu não consigo me considerar outra coisa que não brasileira, eu sou muito nacionalista, né? Eu tenho ciúmes do Brasil, então, é...

978.916
Dandara
Pra mim, eu que sempre vai gritar mais alto, né? Então, eu não me aflige essa questão de ser colocada no canto por ser brasileira, mas me aflige as coisas que são negadas, né, pra mim, pessoas como eu, porque a gente é de outra nacionalidade. Eu acho engraçado que a Austrália, né, geralmente a gente vê, sei lá, primeiro-ministro, políticos, tal, a gente chega na boca pra falar que o país é um país multicultural, mas eles não abraçam multiculturalidade aqui, né? Ah, a gente é...

1004.804
mulheresimigrantes
É uma das maiores hipocrisias desse país. Nós somos fundados, entre grandes aspas também, porque é tudo colonizado, em cima de muito masságio. Nós somos fundados no multiculturalismo, nós abraçamos isso e que não sei o que, que queremos imigração e que não sei o que, é tudo bullshit, gente. É tudo lorota para enganar.

1009.565
Dandara
C. F.

1035.213
mulheresimigrantes
Todo mundo. E por um momento a gente cai. E a gente cai por um momento nesse discurso, quando a gente está de fora, no sentido de procurando para vir para emigrar, para cá e pesquisar. Tipo, nossa, gente, tem muita imigrante. Sim, tem muita imigrante. Tem muitas leis imigratórias que estão em constante mudança para

1037.875
Dandara
e exclui cada vez mais os grupos.

1064.531
mulheresimigrantes
melhorar ou não suprir demandas que o país tem, de certa forma, pelo menos nas grandes cidades, a australiana mediana ali tem um certo conhecimento das leis imigratórias, coisa que no Brasil a gente não tem.

1082.722
mulheresimigrantes
uma cidadã média libediana, tipo, eu não sei como que uma pessoa gringa faz para emigrar para o Brasil, por exemplo, mas na Austrália você conversa com alguém e essas pessoas têm um pouco mais de noção, né? O que também acaba muita gente tendo opinião daquela coisa, né, de que também importou dos Estados Unidos, que é todos os imigrantes vão vir roubar meus empregos, gente, vocês não querem trabalhar nesses empregos, vai alguém suprir essa demanda.

1094.8
Dandara
Uhum. Exatamente. Mas é uma coisa engraçada.

1109.718
mulheresimigrantes
Mas eles gostam do multiculturalismo até a primeira página. Até a metade da primeira. Gosta da comida, gosta das viagens, do poder que o dinheiro daqui da Austrália vai ter na Indonésia, na Tailândia, no Vietnã. Mas será que eu quero ter um casinho indiano? Puta, eu não quero. Eu quero trabalhar com chinês, porra, também não.

1135.177
Dandara
Exato, eu acho que é o spot creator.

1139.923
Dandara
É exatamente nesse ponto que eu ia tocar, essa questão de ter as nacionalidades bem divididas por vizinhança. No Brasil, por exemplo, você vai numa vizinhança, não importa se é pobre ou se é rica, você vai encontrar pessoas pretas, pessoas brancas, pessoas que se parecem, sei lá, asiáticas, coisas assim.

1157.568
Dandara
aqui não. A segunda família que eu fui ao pé aqui, eu morava em Elwood, né? Elwood é uma vizinhança considerada economicamente rica e muito branca, essencialmente branca, né? A maioria das pessoas, senão todo mundo que mora lá era branco. Eu me sentia um ser de outro mundo, andando nas ruas, entrando na padaria, coisas assim, porque era só eu, sabe?

1184.343
Dandara
E você vê as pessoas te olhando também. Não às vezes olhando com um olhar ruim, mas como, nossa, olha só essa pessoa aqui. Enfim, como se você fosse de fato diferente, né? Pro bem ou pro mal você é diferente. E aí eu nunca vou esquecer, por exemplo, da primeira vez que eu vi uma pessoa preta aqui na Austrália. Eu tinha ido pra Sankilda, que é um bairro bem movimentado,

1206.988
Dandara
aqui do Melbourne, e aí eu tava passando na calçada e aí eu cruzei com um cara negro, né? E tipo, sim, eu não sei se ele teve o mesmo pensamento que eu, mas assim, a gente tem, eu já expliquei pra ele sobre o meu pacto, né, que é o pacto da pretitude, né, que você vê uma pessoa preta, um ambiente que você não sente muita vontade, parece que você se é acolhido

1225.094
Dandara
Assim, é automático, aí você geralmente sorriu pro outro e faz uma cena. E foi exatamente, né? A gente olhou pro outro, assim, riu e fez uma cena. É muito automático, mas pra falar, é basicamente um sinal que fala, eu tô aqui, sabe? A gente tá aqui, ou então, obrigado por estar aqui também. E aí eu nunca vou esquecer, foi uma coisa... É...

1240.93
mulheresimigrantes
E não só isso. Eu te vejo aqui. Eu te reconheço. Gente, só um adendo aqui, que enquanto a Nandara tava falando sobre esse bairro, eu dei uma pesquisada. A etnia mais comum que tem nesse bairro é 92%. Tá, continuamos.

1271.698
Dandara
E aí eu vi ele e falei, meu Deus, tem outras pessoas como eu aqui, sabe? E depois eu fui morar com uma menina, Camila, uma das melhores amigas aqui, maravilhosa, ela é preta também. E aí eu entrei no grupo Justiça Social, que foi o que eu conheci mais, variedade, todo mundo brasileiro, enfim.

1292.21
Dandara
Aqui na Austrália essa questão da multiculturalidade é, como você disse, eles enchem o peito pra falar que existe, mas na primeira oportunidade, tá jogando ali, né, quando fazem e fizeram com os aborigines, tá todo mundo prescantando, então isolam todo mundo.

1309.04
Dandara
bairros específicos, em hospitais específicos, as pessoas realmente não se sentem à vontade para visitar outros lugares porque elas não são bem recebidas ali. Para você ter uma noção da questão da multiculturalidade, quando eu fui para os Estados Unidos, eu fiquei chocada em ver, por exemplo, pessoas pretas trabalhando no aeroporto.

1328.968
Dandara
Eu falei, quando eu desci assim, eu falei, meu Deus, e aí foi a coisa mais maravilhosa. Passou um crew, né? Eu não lembro de qual país que era agora, mas obviamente era um país africano, por conta das vestes da empresa, da companhia aérea deles. Tinha todas aquelas patterns, né? Esqueci a palavra, mas aquelas...

1350.776
Dandara
Aqueles desenhos, pinturas lindas, africanas e tal. E era todo mundo assim, bem preto, bem retinto mesmo, sabe? Não tinha body, padrão de corpo assim. Tinha gente, mulheres de tudo quanto é corpo. E aí a gente andando na rua, a gente vendo pessoas pretas, principalmente, que a gente ficou muito no sul ali, dos Estados Unidos, né? Que são lugares que são conhecidos por conta da questão racial, assim, né? Que dominou esses lugares por muitos anos na história.

1378.507
Dandara
via muitas pessoas, por exemplo, eu falei, cara, isso que é multiculturalidade, sabe? Tipo, você vê as pessoas, não só saber que existe. Porque, por exemplo, a maioria das pessoas que, sei lá, vêm de outro país, em algum momento da vida vão aprender que os aborígenes existem, mas não conseguem identificar essas pessoas, nunca viram, não tiveram contato. Tem gente que, por exemplo, não sabe que existem aborígenes de cor de pele branca, né? Lá na escola onde eu trabalho, por exemplo, tem muitas crianças que são aborígenes e que você não fala porque não tem aquele

1405.691
Dandara
padrão fenotípico que as pessoas esperam que a Aborigine tenha. Então, as pessoas são só aceitas quando elas se encaixam no padrão eurocêntrico. E aí elas são convidadas a participar, a estar em lugares que em outras situações elas não seriam.

1423.183
Dandara
E aí a gente vê essa diferença de multiculturalidade. Por exemplo, o Brasil é um país multicultural, porque você vê cultura em todos os lugares, presente em todos os lugares. Não só aqui, você vê restaurante, mas pra você ver uma pessoa, você vai num restaurante asiático, inclusive, quem tá cozinhando é uma pessoa branca. Então, ah, é difícil. É muito difícil essa questão aqui. Tipo, pra você entender, pra você se localizar, é complicado.

1448.763
mulheresimigrantes
Nandara, foi um prazer enorme conversar com você. Eu ficaria mais aqui, mas eu sei que você tem compromisso logo mais. Muito obrigada pela sua presença. Mas então, antes de terminarmos, vamos para a nossa lupa cultural, que aqui é o momento de indicação de trabalhos feitos ou protagonizados por mulheres. E o que você tem para a gente?

1458.37
Dandara
E aí

1471.561
Dandara
Então, olha, sobre trabalho, eu falei muito à minha amiga Camila, que ela é uma rebeleireira em Melbourne, né? Ela tem o Rhea Baikami, que é ali na Sankil de Road, ela é maravilhosa, especialista em cachos, trânsito, trancista, então... E o salão dela parece casa de mãe, assim, é muito gostoso de ir visitar. Sobre trabalhos, né?

1495.879
Dandara
Ai, cara, tem tanta coisa, se eu indicasse em séries, por exemplo, que não são produzidas por mulheres, mas são protagonizadas por mulheres, baseadas em livros que foram escritos por mulheres, eu diria The Handmaid's Tale, que é uma série muito maravilhosa.

1513.282
Dandara
diria o Olhos que condenam, né, na Netflix, que é produzido pela Ava DuVernay, que ela é maravilhosa. Tudo que você assistir dessa mulher, ela vai muito nessa questão racial, cultural, social, então todos os trabalhos que ela faz assim são muito, muito bons mesmo. Sou muito fã da Viola Davis e ao invés de indicar um filme dela, eu indicaria a biografia dela. É muito legal, assim, tipo, é muito...

1540.879
Dandara
É muito interessante ver como realmente ela era a gente, de certas maneiras, como que ela se reinventou. Então ficaria Finding Me.

1554.317
Dandara
Yeah, Finding Me, da Viola Davis. Eu tô começando a ler muitas autoras de origem africana, e tem um livro que eu li recentemente, o Sankofa, que ele é muito legal, é sobre uma mulher que ela vai pesquisar, vai correr atrás, dar os origens dela africanas, depois conhecer o pai dela também, então é um livro muito legal. Posso ficar aqui indicando várias coisas, porque eu sou muito...

1579.292
mulheresimigrantes
Espera aí. Qual que é o nome desse livro? Esse último eu não peguei. Ok, já vou pegar. Boa.

1582.978
Dandara
Sankofa, S-A-N-K-O-F-A

1595.862
Dandara
Tem várias coisas. Eu gosto muito de séries, por exemplo, que eu mencionei a Eva, que tem coisas que batem muito no social. Essa série Olhos Que Condena, por exemplo, é uma série que você chora, que você se enraivece, porque ela é muito... a potência da série é muito grande. É uma série que é baseada em fatos reais, então tudo que você vê ali aconteceu mesmo.

1620.179
Dandara
é muito legal. Então assim, várias, tem várias, muita indicação. Posso até depois mandar umas pra você inscrito, mas é porque eu assisto muita coisa, eu leio muita coisa então.

1632.756
mulheresimigrantes
Adoramos. Tem o seu livro também. Então, quem sabe, depois dessa nossa conversa, não fica aí uma chaminha, uma fagulha de, talvez, retomar esse projeto de relançamento do livro.

1650.742
Dandara
Eu tô trabalhando em um outro livro agora, que é... A minha história é completamente diferente, mas essa história que eu mencionei que já tá na minha cabeça há muito tempo, eu acho que ir para os Estados Unidos fez toda a diferença, porque eu vi coisas ali que eu falei, putz, era realmente isso aqui que eu queria, esse ângulo, essa... Enfim. E aí eu tô trabalhando lentamente nesse livro. Até essa coisa que eu falei lá do livro, lá do pessoal da minha rua, que é uma ideia que nunca morre, que de fato são histórias assim, né? Bem doidas, bem interessantes.

1679.292
Dandara
Mas, sim, acho que escrever é uma paixão, então, se Deus quiser, um dia meu nome vai estar ali entre as autoras mulheres negras mais publicadas do mundo, digamos assim. É uma missão que a gente, enfim, não pensa muito sobre, né, porque... Mas a gente sonha, então... É isso.

1698.456
mulheresimigrantes
Amei, nossa, eu quero sim, super. Assim que lançar então o próximo livro, já avisa que a próxima vez que eu estiver em Melbourne e esse livro já vai estar lançado, eu vou aí pegar a minha cópia em mãos com dedicatória, escrita a mão. Gente, eu tenho três indicações.

1713.895
Dandara
Amém. Amém.

1720.776
mulheresimigrantes
Uma é um documentário na Netflix que eu vou... Eu esqueci de pesquisar o nome, gente, em português, mas eu vou deixar certinho na descrição do episódio que chama The Last Daughter. Um documentário semifilme na Netflix que conta a história de uma menina que, na verdade, já no seriado aí, no seriado não, no documentário, já é uma mulher.

1750.503
mulheresimigrantes
que ela foi adotada, passa na Austrália, ela é uma mulher aborígena, e ela foi adotada por uma família branca, e aí ela descobre o seu passado e vai atrás dessa família original dela, e ela descobre também de como foi feita esse processo de adoção. Já deixando um spoiler, gente, a família branca não fez nada de errado,

1779.94
mulheresimigrantes
Mas teve uma coisa que aconteceu por trás disso, de como essa menina chegou nessa família, que foi errado. Colocando aí que sim tiveram muitas... A gente sabe que tem toda a Lost Generation na Austrália, que foi uma geração inteira perdida de crianças que foram roubadas de suas famílias.

1802.381
mulheresimigrantes
E algumas dessas famílias adotantes sabiam e participavam disso, mas havia outras como essa família que passa no documentário que não sabia. Talvez a família deveria ter...

1807.722
Dandara
e aí

1819.77
mulheresimigrantes
pressionado um pouco mais para saber informações? Não sabemos, gente, aí fica a critério de cada um assistindo, mas é interessante a gente saber um pouco mais sobre esse passado e ainda presente da Austrália que não é bonito, que não é contado de certa forma

1842.159
mulheresimigrantes
pela grande mídia. Então, são produções pelas próprias comunidades que estão aí buscando maneiras de contarem essa história para que a gente saiba como que esse país teve uma população inteira dizimada porque queriam embranquecer aqui. Enfim.

1865.742
Dandara
É.

1866.92
mulheresimigrantes
assistam. E aí tem dois episódios do Não Enviabilize, pra gente ficar no tema cemitério. Eu adoro o Não Enviabilize. Aí um, é um episódio do quadro Mico Meu, que chama Cova. Gente, é um episódio muito engraçado, mas muito engraçado.

1893.097
mulheresimigrantes
Resumindo, é um cara que foi num cemitério, num velório, porque ele estava afim da menina, que era parente da falecida, e o cara caiu dentro da cova. Escutem, vocês vão rir demais. Nossa, é muito bom. E o nome do episódio em si é cemitério. Esse já é um do quadro do Luz Acesa, que são as histórias de dar medo.

1903.183
Dandara
Não, não.

1921.121
mulheresimigrantes
que é um cara que mudou de cidade, fazia carreto e ele foi morar na casa de uma tia dele. A casa era ótima, um sobrado bom, ia pagar pouquíssimo de aluguel.

1936.22
mulheresimigrantes
Só que aí tinha um porém, essa casa. A casa ficava na frente de um cemitério e aí ele teve algumas visitas indesejadas, vamos assim dizer. Então, não vou dar spoiler desse, é que eu adoro Luz Acesa, meu quadro preferido do Não Inviabilize. Acho que devia ter mais também. Me escute.

1954.383
Dandara
Com certeza assistiu. Assistiram, vão ouvir, né? Com certeza.

1961.954
mulheresimigrantes
Gente, é isso. Chegamos até o final. Muito obrigada para quem nos escutou até aqui, para quem está assistindo diretamente aqui do meu estúdio, dentro do meu carro, por motivos de continuar tendo reforma na minha casa. Nandara, muito obrigada pelo seu tempo. Eu espero que você consiga chegar no seu compromisso a tempo. E agradeço os doguinhos por serem parceiros e terem feito uma pequena aparição, porque a gente gosta, tá?

1988.66
Dandara
É uma... É, eu tô indo pra uma reunião de clube do livro, inclusive, que a gente tava lendo esse livro aqui. Devertia ter indicado, de terror. Enfim, eu tinha...

1999.616
mulheresimigrantes
Coloca, a gente põe na lista também. Então, adendo da lista, gente.

2003.08
Dandara
Eu não sei o nome dele em português se tem, mas é da Olivia Blake. Bem legal o livro. É de casas assombradas. Mas enfim, fica a indicação. E eu tinha esquecido desse encontro, eu lembrei um dia que eu te mandei mensagem. Aí eu falei, meu Deus. Aí era pra ser dez e meia, eu falei, a gente tem como jogar pra onze, mas enfim.

2026.561
mulheresimigrantes
Então fica aqui, gente. Ah, Dandara, última coisa, então prometo que a gente desliga. Onde os nossos ouvintes te acham? Qual o seu arroba?

2036.323
Dandara
Ai, meu Instagram é o meu último nome, meu primeiro nome, bem simples. Basicamente isso eu acho. Eu uso Facebook, mas Facebook é só para reclamar de política.

2056.681
Dandara
E é basicamente o meu Instagram vivo lá. Eu tinha já... Deve ter falado sobre isso antes. Eu tinha página que eu comentava, filme, série e tal. Fazia crítica. Mas aí eu parei, enfim. Tô pensando em voltar agora com o perfil sobre livros, né? Vamos ver. Mas por enquanto é só no meu Instagram pessoal mesmo.

2075.708
mulheresimigrantes
Muito bem. E, gente, vamos lá, então, seguir a Dandara e nos seguir também, @mulheresimigrantespod no Instagram e tudo mais. A gente se vê, então, no próximo episódio.

2087.073
Dandara
Tá bom, obrigado.