Conexão sapiens

Mutualidade #6

Kald Abdallah Season 1 Episode 6

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O primeiro passo na jornada para atingir um equilíbrio com o sistema é entender os princípios fundamentais da natureza humana, colaboração, moralidade e alocuidado são comportamentos que conectam o indivíduo ao sistema de forma saudável e sustentável. Após construir um entendimento profundo e sólido, é necessário desenvolver a capacidade de aplicar este conhecimento em ações dia após dia. Saber é muito mais simples que fazer, porém, a ciência é uma arma poderosa que pode informar cada passo desta jornada. Este indivíduo também deve desenvolver autonomia e individualidade, com o objetivo de atingir um equilíbrio entre cuidar do sistema e de si próprio – para descrever este equilíbrio utilizarei o termo mutualidade. A jornada para um equilíbrio com o sistema que nos cerca não é fácil, porém a alternativa é pior.

Portanto, revendo a ciência de hoje, eu não consigo conceber uma festa de aniversário de 65 anos na qual uma pessoa se sinta confiante, com clareza de proposito, plena, com profundo autoconhecimento, sem arrependimentos significativos, com relações sociais profundas e uma densa sensação de pertencer /belonging – ou seja equilíbrio com o sistema, e ao mesmo tempo não tenha capacidade para agir moralmente, colaborar e praticar o alocuidado – regras fundamentais para o equilíbrio com o sistema, condição sine qua non para uma festa de aniversário de 65 anos bem-sucedida, na qual caso Joe Black decida comparecer, será recebido com gentileza e tranquilidade.

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o Um grande abraço do Kald.

Conexão Sapiens: a ciência desvendando você.

Podcast número 6 da fase inicial, área sistema

Mutualidade - colaboração, alocuidado e moralidade.

1.      Aqui é o Kald, muito bom estar de volta hoje no episódio 6, estou muito feliz com crescimento do Conexão sapiens e continuarei coletando informações para melhorar o formato e o conteúdo. Meu objetivo não é provar que estou certo, mas ser útil e efetivo na sua jornada. Portanto qualquer sugestão para tornar o conteúdo mais claro e comunicar as ideias mais eficientemente será muito bem-vindo - relembrando que um grande desafio humano hoje não é saber, mas sim aplicar o que já se sabe. Estou também trabalhando para intensificar a presença do Conexão sapiens no Instagram, porém como eu nunca tive uma presença na mídia social fora do contexto da minha vida profissional, tenho muito que aprender. Acredito que esta pode complementar bem o objetivo de disseminar as informações. 

2.      Relembrando, este podcast busca um formato de uma conversa entre 2 pessoas, na qual uma delas está explicando um ponto para a outra. Procuro sintetizar a ciência das 4 áreas para ser aplicada na sua jornada, esta conversa é uma análise calma, descritiva, lógica e baseada em evidências, não é uma palestra motivacional. Isto significa que cada episódio irá demandar foco e atenção e não será fácil prestar atenção em tantos conceitos novos sintetizados densamente. Busco acender a lenha grossa do entendimento que permanecerá queimando por anos, e não o fogo de palha de uma estória empolgante e irrelevante, já esquecida na semana seguinte. Quero demonstrar para a sua função executiva, a porção lógica e analítica do seu cérebro, o racional científico das prioridades, critérios e parâmetros que informarão suas decisões na jornada de crescimento pessoal e social.

3.      Hoje farei uma síntese sobre os três conceitos da pró-socialidade humana que eu queria destacar nesta fase sobre o sistema, para demonstrar como esses 3 fenômenos - a moralidade, colaboração, alocuidado - tiveram um papel fundamental no processo evolutivo humano e fazem parte do código de funcionamento do design humano, fundamental para nosso equilíbrio com o sistema. Há muitos outros aspectos dentro de um sistema complexo, a separação de um conceito é artificial, uma construção mental para entender algo complexo. Porém essa construção mental é fundamental para permitir a você aplicar este conhecimento. Hoje contarei a história de 2 mulheres, Ana e Katia.

4.      Ana, uma mulher corajosa que viveu em um grupo de 75 pessoas no norte da Espanha cerca de 25000 anos atrás. Esta estória começa no ano que Ana completou 35 anos, ela era respeitada e admirada dentro do grupo, considerada sábia e a melhor catadora do bando. No início do outono, Ana começou a ensinar 4 jovens, incluindo 2 adolescentes, que estão acompanhando a catação diária de cogumelos, nozes, frutas, raízes, insetos, ervas, entre outras coisas. Estes 4 aprendizes não são parentes próximos, porém são filhos de 2 amigas que Ana respeita e conhece desde criança. Os aprendizes têm personalidades diferentes e estão aprendendo devagar, porém dentro do grupo há uma adolescente chamada Tadi que está ajudando a Ana a coordenar todas as atividades e evitar que os mais jovens façam algo arriscado. Uma das preocupações principais é com Leoas e lobos que possam existir na área, porém elas sabem que se todos permanecerem próximos o risco é baixo. 

5.      A região onde eles moram está relativamente calma, porém ela lembra bem de episódios de conflito entre 2 bandos vários anos atrás. Ana tem um parceiro que é um caçador respeitado e tem dois filhos vivos com 17 e 15 anos, uma filha morreu há dois anos atras de infecção com 9 anos. O parceiro da Ana passou por uma fase muito difícil após a morte da filha, da qual ele era muito próximo, porém recentemente melhorou. Ana também ficou bastante deprimida, porém deixou que a dor que ela estava sentindo fosse gradualmente curada pela rotina diária. Ela caminhava sozinha pela manhã, o som do vento nas árvores, pássaros cantando e a mudança das estações trazia paz. Apesar de apreciar os momentos solitários, ela se sentia grata pelo amor que o parceiro e os 2 filhos tinham por ela e todos se uniram ainda mais na dor da perda. Assim como seu parceiro, Ana sabia da necessidade de trabalhar, a responsabilidade e necessidade de perseverar no trabalho de catação e treinamento dos seus aprendizes também amenizou a dor que ela estava sentindo. A Ana e seu parceiro trabalharam juntos por várias semanas fazendo colares de ossos e pequenas esculturas de madeira que eles colocaram no local onde a filha foi enterrada, ambos cantavam juntos e rezavam para o espírito da floresta guiar a filha deles na transição para o mundo espiritual. 

6.      Um dia rotineiro na vida de Ana, começa com uma catação no período da manhã, uma refeição com os amigos e as pessoas que ajudaram na catação por volta das 2 da tarde, cuidar das crianças no período da tarde. Várias amigas da Ana cresceram com ela e frequentemente celebram juntas um dia produtivo de catação durante a refeição vespertina, porém todas entenderam que ela precisa ficar sozinha as vezes. A Ana gosta de andar sozinha nas proximidades do local que o bando selecionou para ficar, sente-se calma e em paz nestes momentos solitários, principalmente depois da catação com 4 jovens que a deixa um pouco agitada. Hoje Ana e seu parceiro estão trabalhando juntos para preparar o fogo para cozinhar alguns pequenos animais que foram resultados da caça do dia. O bando se reúne ao redor do fogo no final do dia para conversar, cozinhar e comer o resultado da catação e da caça do dia. Por vários meses no ano passado, as reuniões vespertinas foram mais sossegadas, devido a tristeza da Ana e seu parceiro. Porém, estão novamente mais animadas com estórias, canções e dança. Todos vão dormir logo após o sol se pôr. O convívio social do bando é próximo e íntimo.

7.      Tanto a Ana quanto o seu parceiro são respeitadas pelo bando e têm um papel de liderança importante devido a sabedoria, tolerância, amizades e as estórias que contam. Ambos são os principais mestres, ensinando a caça e a catação e foram responsáveis pelo cuidado de diversos jovens e parentes além dos próprios filhos. A aldeia sempre demonstra respeito e admiração pelos 2 e a conexão deste casal dentro do bando é intensa, com laços de amor, amizade e família. A perda da filha causou ansiedade e insegurança em toda a aldeia devido ao impacto nos 2 principais líderes, porém todos reagiram da melhor forma possível para apoiar e cuidar do casal e de seus filhos. A importância de uma reação apropriada da aldeia a um desafio, reagindo de forma coesa, como um time sintonizado é fundamental na robustez do sistema - a sobrevivência de todos depende da qualidade desta resposta. Ana está completamente integrada a esta aldeia e é um elemento importante e incondicional desta unidade. Esta aldeia representa sobreviventes que aprenderam a trabalhar juntos por centenas de milhares de anos e está afinada para responder e reagir a todas as dificuldades.

8.      O bando respeitou a dor da Ana após a morte de sua filha. O trabalho, ensino dos jovens, contato com a natureza, os rituais espirituais, os momentos solitários de reflexão, laços de amizade, laços de amor com os filhos e o amor do parceiro tornaram a jornada de um dos piores sofrimentos que eu consigo imaginar, uma mãe perder um filho ou uma filha, um pouco mais tolerável. Ana se sentia integrada e conectada com a aldeia. Esta estória ilustra como o design humano se íntegra muito melhor no ambiente de uma pequena aldeia de caçadores e catadores, porém não tenho a intenção de minimizar ou glorificar a vida dura e arriscada do período pré agricultura.

9.      A segunda estória e sobre Katia, com 35 anos, uma diretora de recursos humanos de uma grande corporação, muito respeitada e admirada pelos colegas e pelos diretores da empresa, que mora em São Paulo. Ela é casada há 5 anos e não tem filhos pois ambos decidiram aguardar um pouco mais. A vida é bastante corrida com uma longa jornada de trabalho que termina frequentemente com 2 horas de academia. A Katia tem 2 amigas que ela conversa frequentemente nos momentos em que está dirigindo, porém ambas moram no interior de São Paulo. A Katia é filha única e seus pais moram no interior de São Paulo, ela conversa com eles por telefone todo fim de semana e sempre que possível vão visitá-los. O marido da Katia tem um relacionamento muito próximo com a família da Katia, porém não tem contato frequente com a própria família. Ele é um advogado respeitado, porém trabalha longas horas e frequentemente está exausto quando chega em casa. O relacionamento entre Katia e seu marido é excelente, porém limitado devido ao pouco tempo que ambos têm. Ela adora viajar, mas viaja pouco nos últimos anos devido ao impacto da pandemia. A Katia está cuidando da ansiedade que vem sentindo recentemente com psicoterapia e exercícios de meditação, seu dia começa cedo com um café da manhã saudável, 40 minutos de trânsito até o trabalho e academia no final do dia, cansada quando chega em casa. O fim de semana geralmente inclui atividades sociais com amigos e um certo tempo com o marido. Ambos conversam bastante e tem uma relação íntima com amizade e amor, porém há pouco tempo para uma vida social extensa e o marido da Katia é uma pessoa introvertida e de poucos amigos. Ambos foram educados em famílias católicas, porém não praticam regularmente nenhum ritual espiritual religioso. Financeiramente estáveis e sem preocupações a longo prazo no que tange à saúde.

10. O design humano moldado em um ambiente similar a aldeia imaginária que venho descrevendo repetidamente inspirou a estória da Ana, que estava completamente integrada dentro do sistema que vivia. Podemos observar uma diferença significativa entre a integração com o sistema entre Ana e Katia, estas diferenças se manifestam em diversos níveis:

a.      Ana tem um contato muito mais íntimo e frequente com a natureza, a intimidade diária com o ambiente, os animais, as árvores e todo o ecossistema ao redor é uma parte integral da vida da Ana, o que não é o caso para Katia. Irei dedicar um episódio em breve para explorar o impacto que um contato mais profundo com a natureza pode trazer para as pessoas nos dias de hoje.

b.      A atenção da Ana é continuamente voltada para o momento de agora e o espaço ao redor dela, a habilidade de manter a atenção é crucial para a sobrevivência em um espaço onde o risco de acidentes ou animais é constante. A atenção de Kátia está livre para ruminar o passado e ou fantasiar catástrofes sobre o futuro, o que explica parcialmente a depressão e ansiedade que observamos hoje. Prestar atenção no momento de agora e aumentar a consciência do espaço são intervenções efetivas no tratamento da depressão e ansiedade. Irei dedicar vários episódios a discussão sobre os benefícios do treinamento da atenção e mindfulness.

c.      Ana também demonstrou muita sabedoria ao equilibrar a energia entre cuidar da aldeia (alocuidado) e cuidar de si própria (autocuidado). Esta conexão sólida com o próprio corpo e com o self que ela demonstrou reflete o autoconhecimento e o conforto que ela tem com a própria identidade. Ela sabe quem ela é e o que ela precisa. Irei dedicar um episódio em breve sobre a importância do treinamento da consciência do próprio corpo, ou seja, a interocepção. Na terceira fase, após concluir sistema e socialidade, irei discutir individualidade e autoconhecimento em vários episódios.

d.      Espiritualidade - Os rituais espirituais que Ana e seu parceiro fizeram no processo de luto, permitiram que ambos navegassem a jornada de cura da dor profunda que tinham após a perda da filha. Kátia não praticava nenhum ritual espiritual exceto a meditação. Irei dedicar um episódio em breve para discutir o impacto benéfico que a prática religiosa e espiritual pode trazer para a pessoa que pratica. Devo enfatizar que não irei discutir religião, mas sim o impacto de uma prática religiosa e espiritual no bem-estar humano baseado em dados científicos.

e.      A colaboração é uma parte integral da vida diária da Ana, que faz praticamente tudo enquanto colaborando com os membros da aldeia nas diversas atividades do dia a dia. A vida social, a cognição coletiva, a reflexão moral, o alocuidado e a colaboração nas tarefas diárias acontecem naturalmente e são fundamentais para a sobrevivência da aldeia. A aldeia é um time unido e em sintonia com o jogo da vida. Colaboração e conexão social andam de mãos dadas, quanto mais profundas e numerosas as colaborações, maior é a conexão social. A vida que a Katia tem em São Paulo é basicamente individual, sua integração com o sistema é muito mais fragmentada e superficial. As colaborações no trabalho podem ser importantes, porém a profundidade, duração e a intensidade das colaborações não têm comparação com a nossa aldeia imaginária. A menor duração, intensidade, qualidade, número e impacto das colaborações da Katia correlaciona-se com uma rede de conexão social menor, muito diferente e mais fragmentada que da Ana.

f.        Alocuidado e reflexão moral – A responsabilidade de ensinar os mais jovens e a importância de manter a catação para suprir a aldeia foram fatores importantes na decisão da Ana de perseverar, que tinha consciência do impacto que a tristeza poderia trazer para todos. As ações da Ana e do seu parceiro foram visíveis no bando, que reconheceram o esforço do casal, modificando a rotina e demonstrando respeito pela dor de ambos. Os desafios de 2 líderes importantes da aldeia se tornaram desafios que toda a aldeia deveria enfrentar. É fundamental olhar para Ana no contexto das relações dentro da aldeia. Há uma coletividade muito mais profunda nos pensamentos, sentimentos e ações de todos. A dor não foi sofrida pela Ana sozinha, mas sim pela aldeia toda, principalmente as pessoas mais próximas. A visibilidade, intensidade e qualidade da reflexão moral que Katia deve demonstrar na vida dela é bem menor que da Ana e muito mais individualista, e raramente é uma questão de vida e morte. Kátia não tem a oportunidade de exercer o alocuidado fora do ambiente do trabalho, sua vida e muito mais centrada em si mesmo, autocuidado.

g.      Socialidade - A qualidade e quantidade das conexões sociais da Ana quando comparado com a Katia demonstra uma dimensão esclarecedora da razão pela qual hoje tantas pessoas sofrem de isolamento social. Caso fosse possível medir o volume das conexões sociais de ambas, acredito que a Ana teria dezenas ou até centenas de vezes maior volume que a Katia. O convívio e a colaboração de Ana com as amigas era cara a cara e frequente, não se limitava uma ou duas conversas por semana como no caso da Katia, e envolvia o cuidado dos filhos das amigas no treinamento da catação. O amor que Ana tinha pelos 2 filhos e pelo parceiro permitiu que todos navegassem o luto juntos, Ana não estava sozinha! Ela tinha certeza de que todos estariam ali ao lado dela no dia seguinte. Certeza baseada em relações sociais que foram construídas por anos de colaboração, e servia como uma âncora para Ana, que se sentiu muito triste, porém nunca à deriva, mas sim conectada e pertencendo ao grupo, ou seja, belonging. O que não é o caso nos dias de hoje para uma grande proporção das pessoas, a qualidade da socialidade humana é tão importante para o nosso bem-estar, que a segunda área será integralmente dedicada a este assunto.

11. Enfatizo que estas histórias são fictícias com o objetivo de demonstrar um ponto, não quero julgar o que é certo ou errado, bom ou ruim. Meu ponto principal é descrever as disparidades destes sistemas e o impacto destas disparidades no bem-estar de cada um de nós nos dias de hoje. Como intervir nesta desconexão que enfrentamos na vida moderna será um tópico de várias discussões futuras que serão baseadas em estudos randomizados. Porém tenho certeza de que Ana está muito mais intensamente integrada ao sistema da qual faz parte. A sistemeostase da Ana era robusta e os princípios que dirigem esta conexão estão intimamente enraizados na colaboração, moralidade e o alocuidado. Porém o autocuidado também não deve ser negligenciado, o autoconhecimento permite navegar o equilíbrio necessário para dedicar energia de uma forma balanceada entre self e a aldeia, ou seja, entre o alo e o autocuidado. Ana soube navegar este equilíbrio com muita sabedoria, sua jornada de luto pela filha foi triste e longa, porém sempre com uma direção bem definida e com o apoio de todos ao seu redor. A sabedoria que ela teve ao navegar o processo de luto demonstrou uma capacidade cognitiva moral e social combinada com um profundo autoconhecimento. A alta qualidade da socialidade da aldeia, ou seja, a empatia, amizade, amor e a teoria da mente que conectava todos, permitiu este time funcionar efetivamente para absorver e se adaptar aos desafios robustamente. O alto status social de Ana foi adquirido no decorrer dos anos devido a sua capacidade, liderança, sabedoria e generosidade. A consideração que Ana sempre demonstrou ao perseverar apesar da profunda tristeza foi reconhecida e recompensada por todos do bando, pois sua posição de liderança e status social se consolidou e aumentou. Tanto Ana quanto a aldeia terminaram este processo mais fortes. 

12. Resiliência diante dos obstáculos frequentes e imprevisíveis era uma qualidade deste grupo de sobreviventes. Esta qualidade foi sendo refinada geração após geração por centenas de milhares de anos e nenhuma pessoa precisava enfrentar os obstáculos sozinha. A combinação da necessidade de estabelecer uma colaboração produtiva, combinada com uma reflexão do que era apropriado para cada um e a necessidade de cuidar, ensinar e proteger os mais jovens, ou seja, a colaboração, moralidade e o alocuidado, informavam os critérios e parâmetros da grande maioria das decisões do bando no dia a dia, em linha com design da natureza humana. Foram estas regras que permitiram a formação de um grupo tão coeso da qual Ana fazia parte, portanto ela nunca se sentiu abandonada ou à deriva, pois tinha certeza de que fazia parte de algo muito maior que a dor que ela estava sentindo.

13. A vida Moderna criou um ambiente que cultiva e facilita uma vida individual e desconectada da sociedade na qual se faz parte. Esta transição do ser humano, que fazia parte de um time pequeno e coeso por centenas de milhares de anos, não está sendo fácil e não é de se surpreender que haja tanto sofrimento entre todos. Fazendo uma analogia simplista, o ser humano é como uma pessoa que nasceu e cresceu em um povoado pequeno no interior, perto da família, trabalhando no sítio, e aos 55 anos foi forçada a mudar para um apartamento em São Paulo. A adaptação é possível, porém não é natural e certamente depende de vários fatores. Sem informação relevante e aplicável, contato social, dicas específicas, suporte e treinamento, a chance de uma adaptação bem-sucedida é muito baixa. Mesmo com todo apoio, a probabilidade de dar errado é maior do que dar certo.

14. O primeiro passo na jornada para atingir um equilíbrio com o sistema é entender os princípios fundamentais da natureza humana, colaboração, moralidade e alocuidado são comportamentos que conectam o indivíduo ao sistema de forma saudável e sustentável. Após construir um entendimento profundo e sólido, é necessário desenvolver a capacidade de aplicar este conhecimento em ações dia após dia. Saber é muito mais simples que fazer, porém, a ciência é uma arma poderosa que pode informar cada passo desta jornada. Este indivíduo também deve desenvolver autonomia e individualidade, com o objetivo de atingir um equilíbrio entre cuidar do sistema e de si próprio – para descrever este equilíbrio utilizarei o termo mutualidade. A jornada para um equilíbrio com o sistema que nos cerca não é fácil, porém a alternativa é pior.

15. Portanto, revendo a ciência de hoje, eu não consigo conceber uma festa de aniversário de 65 anos na qual uma pessoa se sinta confiante, com clareza de proposito, plena, com profundo autoconhecimento, sem arrependimentos significativos, com relações sociais profundas e uma densa sensação de pertencer /belonging – ou seja equilíbrio com o sistema, e ao mesmo tempo não tenha capacidade para agir moralmente, colaborar e praticar o alocuidado – regras fundamentais para o equilíbrio com o sistema, condição sine qua non para uma festa de aniversário de 65 anos bem-sucedida, na qual caso Joe Black decida comparecer, será recebido com gentileza e tranquilidade.

16. Por favor me enviem sugestões, críticas construtivas e perguntas. Para concluir, caso você ache que este é um assunto que vale a pena, por favor se inscreva e espalhe essa notícia, tem um novo podcast - Conexão Sapiens: a ciência desvendando você. 

17. Um grande abraço do Kald.